domingo, 14 de junho de 2009

Too much information, too much exhibition

Às vezes me sinto soterrada por tanta informação desnecessária, tanta tecnologia que nos torna cativos de mais informação e de cada vez mais tecnologia, consequentemente mais trabalho, bem menos tranquilidade, ausência de preciosos momentos de lazer, muito menos paz, mais tensão, ansiedade, agressividade e cobranças infindáveis. Fumamos mais, bebemos mais, comemos muito mais, consumimos cada vez mais ansiolíticos, antidepressivos e tranquilizantes. Somos infelizes ou falsos felizes e para piorar, escancaramos nossas vidas, nossos passos, nossa privacidade, para fazer parte da onda, do grande barato deste mundo. Outro dia li um texto muito bem escrito por Arnaldo Jabor (confesso que às vezes passo batida por alguns textos dele, semanalmente publicados no Estadão) sobre os sábios conselhos de sua avó pour cachez votre bonheur - esconder sua felicidade - não por hipocrisia, tampouco por egoísmo, mas pela natural elegância, pela cuidadosa delicadeza para não afrontar o outro com a sua felicidade, ou projeto de felicidade, seja ela merecida ou não. Afinal, neste mundo hiper conectado, cujas pontas sempre se unem em um único círculo e nos permite a descoberta de que todos temos alguém conhecido em comum, cada vez mais deveríamos cultivar a delicadeza e a elegância, para não magoarmos, para não afrontarmos, para não expormos em demasia nossa própria vida. Quer um exemplo? Com os relacionamentos relâmpagos e nem por isso menos intensos, além do troca-troca periódico, consequente da incapacidade de alguns para criar raízes sólidas e verdadeiras, você acharia realmente necessária a publicação na internet de fotos de casal aparentemente feliz, principalmente, se essa felicidade baseou-se em atitudes pouco louváveis e resultou na infelicidade de outras pessoas? Não, né. Então, mais delicadeza, mais elegância, menos necessidade de firmar de fato, o que, de forma subjetiva, entendem ser direito.
Como vivíamos antes sem e-mails, sem celulares, sem internet móvel, sem corrermos o risco de criarmos gerações anômalas com polegares de ambas as mãos super desenvolvidos, pelo esforço repetitivo para digitar tantas letras nos blackberrys fields forever? Mas, minha cara, você acaba de sair daqui e mal entrou no táxi, já mandou outro e-mail? Que compulsão absurda é essa? Aos poucos perdemos a capacidade de conversarmos, de olharmos nos olhos das pessoas, de aprendermos o outro - e, consequentemente, de amarmos o outro, de assimilarmos valorosos conhecimentos, de desenvolvermos cada vez mais nossa empatia, de aprimorarmos nossa comunicação, nosso respeito e nossa tolerância. Quantas vezes seu celular toca enquanto você conversa com outra pessoa, enquanto você está em consulta médica, durante reunião de trabalho? Falemos sobre a idosa e aposentada etiqueta: Como agradecer um jantar? Qual é a flor mais adequada para ser ofertada a uma senhora de idade? Como identificar e utilizar os talheres de peixe? Como dispor copos à mesa? Qual vinho combina com tal refeição? Não. Alguns, mais sensíveis, perguntam se seria educado usar o celular no banheiro. Pela especial sonoridade, suponho.
É tudo rápido demais, massacrante, estressante, desafiante, desnecessário e frustrante. O que acrescenta ao meu conhecimento, como a minha vida se torna melhor, como eu posso evoluir com tantas informações, e pior, tamanha quantidade de informações totalmente desnecessárias sobre realities shows, sobre quem ficou com quem, quem deixou quem, as preferências sexuais de alguém, a mulher berinjela, o homem uva, o casal tomate? Será que eu terei que me transformar na mulher banana para fazer parte desse mundo hortifrutigranjeiro, para acompanhar a moda, para ser temporariamente considerada, para também ser descartável, para ser igual e agir de acordo com o que nos é ofertado? A mulher banana que tudo aceita, que tudo acompanha - a melhor cria da mídia desenfreada e de qualidade duvidosa - que aprende a projetar em sua vida e relacionamentos a mesma baixa qualidade que engole todos os dias? Essa loucura criadora de celebridades instantâneas, normalmente, baseada em vulgaridade e atitudes pouco valorativas, será o paradigma mantido até o final dos tempos? Lembrei-me que há mais de vinte anos um colega que se considerava muito culto, moderno, antenado, puxou-me num canto da sala, durante o intervalo de reunião gerencial mensal, para perguntar-me quem era Odette Roitman, cuja morte, à época, foi manchete em todos os jornais de grande circulação: Quem matou Odette Roitman? Lógico que ri, lógico que provoquei-o com a sua total ignorância sobre a matriarca megera, como também tirei-lhe a angustia por ele não assistir a novela das oito. Era o começo. A mãe perversa da histriônica Heleninha foi notícia por meses, mas hoje, a coisa piorou, porque as celebridades têm vida mais curta e impacto muito maior. E não há mais almas caridosas que se proponham a retirar a angustia oriunda da nossa total falta de conhecimento - ou negativa de assimilarmos tantas abobrinhas - sobre algumas coisas que acontecem e sobre as quais não deveria haver qualquer alarde. Assim, desenvolvemos sorrisos enigmáticos, olhares complacentes e ouvidos de mercador para sobrevivermos aos comentários diários sobre coisas que não mereceriam comentário algum. Alienados? Sim, obrigada. Resolvi que faço parte da turma de alienados, anestesiados e patéticos seres que chegam à metade da vida com uma criança interna sapeca e rebelde, que brinca nas horas certas e, nas incertas, cria asas, feito anjo.

Imagem de Peter Lippermann

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