segunda-feira, 8 de junho de 2009

Rapidelas

Às vezes me flagro no papel de mãe-padrão. Ouço o que falo e não me reconheço, como seu eu fosse outra pessoa.
 
Coincidências? Numa tarde gostosa de outono, após a leitura de um livro e meu chá preferido, eu colocava os e-mails que recebi em dia e, enquanto escrevia, senti a vontade de pesquisar meu nome no Google. Foi a primeira vez que pesquisei meu nome e fiquei surpresa ao encontrar um site social do qual eu não me lembrava. É fácil entender: Em 2004, era comum recebermos convite para ingressarmos em sites sociais como o orkut e outros que tentavam lhe fazer frente. Assim, em prol da gentileza, preenchi meu perfil em alguns sites aos quais fui convidada e dos quais me esqueci, assim como me esqueci das senhas de acesso. Falta-nos tempo e ânimo para esses sites que costumam criar amigos de infância instantâneos, mas, também, permitem o reencontro, a reaproximação de pessoas. Pois lá estava, naquele site social tão esquecido quanto desconhecido, um recado deixado quinze dias atrás, por uma prima que nunca vi. Coincidência, não?

Fiquei dois dias de molho com dores inéditas e insuportáveis, acompanhadas por mal estar generalizado. Graças a Deus a única coisa que eu conseguia fazer era dormir. Dormir e suar, acordar e trocar a camisola, dormir novamente e suar. Lembrei muito de meu pai, que curava qualquer mal estar com o sono. O sono que alimenta o corpo.

Sair com o cão para o passeio diário requer atenção, gentileza, educação e cuidado. Insisto no tema porque cada vez aprendo algo. Não entendo como nós, mulheres, podemos controlar um cão que pesa mais de cinquenta quilos. Pit bulls, rottweilers, pastores alemães, labradores, não importa a raça, tampouco o quanto adoráveis possam ser, são cães, agem como cães e são capazes de criar verdadeiro apuro. Até hoje, só senti segurança na dona de um pit bull, que o leva para passear com focinheira e coleira dupla: Aquele cão parece ser bem treinado e ela parece saber o que faz. Eu que não sei bem o que faço e meu cão que desconhece a palavra treino, costumamos atravessar a rua, ou, caminhar no lado oposto dos carros estacionados. Responsabilidade é outra palavra que surge nesses momentos.

Numa dessas lindas manhãs de sábado, o cão e eu demos um longo passeio e na volta para casa, na mesma calçada e no sentido oposto ao nosso, vinha o autor e ator Marcos Caruso com seu cão (bem semelhante ao greyhound, mas menor - desculpe, ele fez questão de citar o correto nome da raça, mas eu me esqueci). O meu cão parou perto de uma árvore e lá o mantive para que Caruso e seu cão passassem sem qualquer incômodo. Eu desconhecia que o gentil Caruso havia parado em frente da garagem de seu prédio e aguardava a nossa passagem antes de subir. Os cães se aproximaram sem qualquer problema, agradeci e rapidamente comentei o quanto aprecio as peças e filmes de sua autoria e nos quais ele é ator. Depois daquele baile é encantador e Intimidades indecentes uma das melhores peças teatrais. Trair e coçar e só começar assisti há muitos anos, quando Denise Fraga era a hilária Olímpia. A gentileza torna nossa vida muito melhor.
 
Pessoas que convivem em ambiente coletivo fechado e ficam gripadas, devem ficar em casa até se recuperarem. Cada um tem sua própria resistência e a imunidade ativa das pessoas varia muito. Afastar-se para curar-se melhor e para não contaminar os demais deveria ser obrigatório. É obrigatório.

Os comentários sobre o filme Lust, Caution (2008) de Ang Lee (Pushing hands, 1992, The wedding banquet, 1993, Sense and sensibility, 1995, Crouching tiger hidden dragon, 2000, Taking Woodstock, 2009, dentre outros) me fizeram pensar. Segundo Lee, em todos os gêneros ele explora o conflito “entre o que você deve fazer e algo interior que você tenta reprimir.” Lust, Caution recebeu o Leão de Ouro em Veneza, marcou o retorno do diretor à Xangai, além de ser classificado impróprio para menores de dezessete anos, por ser um “thriller erótico de espionagem com cenas de sexo gráfico.” Alguns o compararam ao filme A espiã, de Paul Verhoeven, com um toque noir. Pouco importa. Ang Lee é capaz de criar polêmica, mas sua arte não é vulgar.
Confesso que não considero corriqueiras, muito menos apropriadas, cenas pornográficas constantemente exibidas na televisão em horário considerado nobre, ou, bem próximo ao horário habitualmente assistido por crianças.
Agora mesmo, enquanto escrevo e ao mesmo tempo assisto a série In treatment, passam chamadas de um programa chamado Sexo urbano, que deixariam qualquer um envergonhado.
O que realmente nos deixa envergonhados? O que nos incomoda? O que me deixa envergonhada pode não envergonhar outra pessoa. Mas há um senso comum, uma noção geral, que permite definir com mais propriedade o excesso desnecessário. Sem dúvida, influenciado pelo jeito de cada um, pelos costumes e educação recebida.
Quando estou cansada e sinto que não conseguirei desligar a televisão aciono o timer. Se meu filho não me conhecesse tão bem, seus comentários sobre alguns filmes que passam enquanto durmo e o timer está na contagem regressiva seriam outros, mas com excelente humor, quando volta de madrugada, ele entra no quarto da mãe e desliga a TV.
Voltarei ao polêmico filme de Ang Lee, assim que o assistir.

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