terça-feira, 23 de junho de 2009

Lembranças de inverno

Outro dia encontrei esta imagem da piscina térmica de água mineral do Palace Hotel, na cidade mineira de Poços da Caldas, onde por dez anos passei minhas férias de inverno.
A varanda do quarto dos meus pais, nesse confortável e luxuoso hotel construído na década de trinta, se abria para o lindo parque com o relógio de flores perto do prédio imponente do antigo Palace Cassino. A varanda do meu quarto se abria para a praça com o coreto construído em 1921. Do lado direito ficam as Thermas Antônio Carlos, que, à época, proporcionavam diversão extra com seus aparelhos antigos e banhos termais. Eu era a adorável garotinha paparicada por todas as moças competentes e vestidas com roupa brancas, que atendiam às senhoras que lá faziam seus tratamentos de beleza.
Lembro como eu ficava encantada com o soprar daquela massa diferente e colorida, que se transformava nos mais variados objetos de cristal, nas fábricas antigas que visitávamos. Não houve vez que eu deixasse de ganhar dos “sopradores”, normalmente senhores italianos de certa idade, bichinhos coloridos de cristal que até hoje estão guardados na cristaleira de casa.
A cachoeira véu da noiva era linda, exuberante, barulhenta e tinha água em abundância. Ir de teleférico ao Cristo Redentor, na Serra de São Domingos, era passeio que eu fazia com meu pai e cada vez a emoção se renovava: A cabine do teleférico balançava ao encontrar o vento.
A sonora fonte luminosa do parque florido e a fonte dos amores, com a bela estátua de mármore e a placa de bronze com os seguintes dizeres:
Neste recanto o amar tudo convida
Que amor é vida,
Amai! Amai!
Mas, a quem pôs aqui tanta beleza
A alma na natureza
Uma oração mandai:
Orai! Orai!
Lembro que no jantar eu ficava um pouco triste, por que as crianças tinham seu próprio restaurante e não podiam frequentar o salão principal. Esse era o momento que eu queria que passasse rápido, para reencontrar meus pais e juntos fazermos a caminhada noturna pelo parque, que sempre acabava no salão de chá do hotel.
Essa piscina era a diversão matinal minha e de meu pai. Ele definia até que ponto eu poderia ir, nadava com seu estilo elegante e rápido voltava ao meu encontro. À tarde, eu brincava nessa mesma piscina com as outras crianças, enquanto meu pai, próximo à borda, com carinho observava sua garotinha. Atento ele pularia na piscina se necessário fosse. Essa sempre foi a certeza que meu pai me passou: Ele iria onde eu estivesse para me ajudar.
Não me esqueço do trenzinho elétrico que ficava na pracinha, das carrocinhas de madeira puxadas por carneiros, que eu adorava, e da única máquina de fliperama que existia, com um volante e a simulação de ruas e obstáculos, que deveriam ser evitados pela pequena motorista.
Nesse mesmo hotel voltei com meus pais - meu pai já meio doente - e meu filho com um ano e meio de idade. O trenzinho de ferro, a máquina de fliperama, as carrocinhas de madeira, os quartos e a bela vista eram os mesmos. Adultos e crianças faziam juntos as refeições no elegante salão principal.
A cidade havia crescido e as fábricas de cristal estavam mais modernas. Nessa piscina era eu quem entrava com o meu filho de manhã e à tarde, enquanto sentado à mesa próxima, meu pai observava as brincadeiras do neto tão amado.
Com meu pai fomos de teleférico ao Cristo Redentor e o nosso garotinho, seguro e alegre sentado ao lado do avô, não sentiu o vento forte que balançava a cabine.
Da última vez que para lá fomos éramos três e meu pai estava em nossa lembrança amorosa, assim como as carrocinhas de madeira, o trem elétrico e a exuberância da cachoeira. Por sorte a vida é generosa e nos oferece momentos nos quais a magia sempre é resgatada. Abençoados momentos.

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