sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Colcha de retalhos

Há tempos não comia um robalo tão gostoso quanto o de hoje. Robalo acompanhado por batatinhas cozidas e tomates frescos preparados de um jeito especial, para mim inédito, tudo com manjericão picado. Aliás, pedi reforço no manjericão e vieram folhas frescas, inteiras, com o delicioso perfume que o manjericão tem.

É engraçado como o jeito de pessoas recém conhecidas me faz lembrar o jeito de pessoas que conheci e assim, arranjei uma maneira meio inusitada de perceber um tantinho melhor o outro e não achar que todos são bons e honestos até que provem o contrário. Esse jeito de olhar eu já vi antes; esse jeito de falar, essa postura do corpo, essa insegurança disfarçada, esse sorriso, essa boa ou má educação, esse tique, essa mania. Não faço parte dos privilegiados capazes de conhecer o outro em segundos, minutos, talvez. Minha mãe era assim. Nunca errou. Confesso que algumas vezes eu gostaria que ela tivesse errado.

Pão escuro, folhas de rúcula (adoro rúcula), cream cheese, salmão defumado, limão e azeite. Salada de frutas e cappuccino com raspas de chocolate. Ar condicionado na medida certa, som ambiente gostoso, do lado de lá da parede de vidro a rua movimentada e do outro lado um monte de livros. Nada poderia estragar esse almoço, salvo alguns paquidermes que ocupam mesas sem nada consumir, outros que ocupam o lugar sem nada consumir e ainda falam muito ALTO e aqueles que juntam oito ou mais cadeiras em torno de uma mesinha que cabem duas, no máximo três cadeiras. Na semana passada eu quase perguntei se a reunião de condomínio estava no fim, mas a turma de engravatados falantes foi poupada do meu bom humor, graças a uma amiga que encontrou outra mesa que vagava naquele exato momento. Quando estou sem companhia, para minha alegria, encontro mulheres que almoçam sozinhas e perguntam se eu gostaria de compartilhar a mesa. Gosto muito dessa atitude, que sempre foi tão comum no exterior, e confesso que anos atrás me sentia um bichinho meio estranho, nas vezes que tentei ser gentil e compartilhar a mesa que ocupava sozinha.

Gosto muito da obra de Angelopoulos, de Costa Gravas e de
Cacoyannis, que reforçam a parte da Grécia que tenho em mim. Considero impossível não render-se aos enfoques que esses três cineastas tem do homem, da sociedade, dos conflitos, da política, dos sentimentos, dos valores e da vida. Os três extremamente talentosos. Excepcionais.

Leio duas tragédias de Eurípedes: As Troianas e Medeia. Às vezes é necessário buscar nas tragédias gregas a fórmula que resgata parte da essência da qual somos feitos.

Um livro delicioso de ler, presumo mais para as meninas, é Things I wish my mother had told me, de Lucia Van Der Post. Vai do como trabalhar e ter uma vida, aos cuidados com a casa, sem deixar de passar pelo comportamento ideal no primeiro encontro. Reconheço que algumas coisas mamãe deixou de me contar, ou, justamente por ser minha mãe, eu decidi não escutar. Confesso que minha rebeldia foi meio tola.

Sinto falta dos filmes de Katharine Hepburn e Spencer Tracy. Que dupla encantadora e genial!

Li a relação das cinquenta atrizes mais bonitas da história do cinema e fiquei decepcionada com algumas escolhas e com a falta de outras. Toda a relação que compreende qualquer coisa mais, ou melhor, de alguma história, já começa fadada ao fracasso.

Para meu pai, a mais bonita era Ava Gardner, que tinha o tipo que ele apreciava, e minha mãe considerava Tyron Power o mais bonito, além de fazer o seu tipo. O meu tipo está em construção.

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