De repente lembrei-me da hidra – o famoso lembrar repentino, sem controle, regido pela sabedoria intuitiva que nos torna simples instrumentos - e resgato da mitologia, que desde pequena aprendi com meu pai, a exata imagem que ressurge: A hidra lamuriosa, plena de truques, ardilosa, insidiosa com aparência encantada e essência difícil ruim.
Ô Heracles, virtuoso e destemido Heracles, não se esqueça das famélicas e ressentidas cabeças que restam, todas menos uma que a natureza se encarregou de matar. Alimente-as com perdão e distância, deixe que aprendam, finalmente aprendam, o sabor dos feitos desfeitos. Deixe que sintam o amargor da dor da total ausência de pudor do simulado colorido para aliviar o interior solitário excessivamente cinzento. Sempre cinzento. Desde o útero pesado e cinzento. Desejo e culpa. Culpa sem desejo algum. Solidão temerosa. Opressão dos melhores sentidos. Doze tarefas, doze desígnios reunidos num só, único.
Ô Heracles, sábio herói a compensar sua própria ascendência com a excessiva dedicação sugada por hidra por hera. Como deter a própria natureza? Nem Heracles.
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