domingo, 1 de fevereiro de 2009

Paz

Dizem que para escrever sobre qualquer tema é necessário conhecimento. Pois eu não conheço, nada sei sobre o que deixo por aqui e acredito que escrever é uma forma de tentar entender e aprender.
Sensações. Ando mais solta, mais leve sem os ‘ter que’ passados, contemplativa e capaz de observar a vida, bem mais apta a me observar.

As ideias existem soltas, parece que todos tem suas opiniões sobre esse tema, doutores da vida e da verdade, mas acredito que ninguém sabe ao certo por que pensa desse ou daquele jeito.
Não é fácil encontrar recado inesperado sobre a morte de alguém. Ainda mais quando essa morte parece tão prematura, fora de propósito e sem razão. É complicado perceber que existem pessoas capazes de alegrar qualquer ambiente e situação e que, de repente, deixam de existir.
Fui pega de surpresa e a sensação em estado bruto apertou o coração, deixou incômodo e tristeza com gosto desconhecido. Contei para meu filho, nós dois, todos fazíamos a mesma ligação da Paz com a alegria.
Talvez algum engano, não poderia ser. Perguntei a quem deixou o recado o que havia acontecido – será que entender é a melhor maneira que existe para aceitar? – e a resposta confirmou a sensação. Meu Deus, pode a alegria viver sem a tristeza?
O estado valente define em suas normas que a vida não nos pertence. A religião parece impor excesso de culpa a vários fatos. Há os que ficam e sentem culpa tardia; os que se sentem traídos; os que se sentem abandonados. Alguns criam sinônimos, como se tudo entendessem. Eu não sei. Não acho que o suicídio faça par com a covardia, nem que mereça ser desconsiderado, ou falado com meias palavras, com medo, com repulsa como alguns falam a palavra câncer. Acho que, às vezes, a vida pode parecer tão pesada, tão sem solução e o cansaço, a depressão, a total ausência de esperança, o desamor, o não poder mais, o sofrimento ficam tão fortes, tão duros, tão únicos, que parece não sobrar espaço para mais nada a não ser o total vazio, que desafia e parece vencer o instinto mais primitivo, a natural sobrevivência.
Gosto de você, querida Paz. Gostamos de você e a imagem que guardamos, nossa lembrança de tantos anos não mudou; não mudará. Homenageamos você no dia que soubemos de sua morte com a lamparina que acendemos em frente aos nossos ícones e reforçamos nossa homenagem quando soubemos de sua escolha, ou ausência de escolha.
Por vários dias guardei você em meu coração em minha mente e sei que esse guardar é forma de orar. Pensei em escrever algo para tentar entender o que não sei. Na realidade, acho que ninguém sabe.
À noite, entre uma frase e outra lembrei que o trabalho foi tanto que não tive tempo para almoçar e por não ter almoçado, não tomei a dose diária do remedinho daquele horário. Dei um pulo, abri a bolsa e com um gole de água foram as duas cápsulas. Parei poucos segundos neste aprender a me observar que passei a praticar.
Esperava você voltar para São Paulo para tomarmos um café e lhe contar sobre a minha vida, para que você arranjasse mais força para a sua. Deixei carinhoso recado quando soube da morte de sua mãe e, não sei por que, me esmerei com cuidado na escolha das palavras mais carinhosas para desejar nova vida com o novo ano. Parece, Paz, que a minha intuição queria lhe mandar ânimo e esperança, sem que eu soubesse. A única coisa que eu sei é que o amor é poder supremo. Nosso amor para você, Irene. A paz que seu nome significa. Paz.

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