segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Carnaval do jeito que eu quis

O que mais você precisa neste tempo de carnaval?
Cair na folia para descarregar todo o peso e renovar a energia para os próximos trezentos e tantos dias do ano? Sumir, se divertir, dar um tempo para tentar ser feliz e se esquecer de tudo, virar outra pessoa ou a pessoa que você sempre guardou aí, dentro, para depois voltar à mesmice morna e aguentar as escolhas mal feitas ao longo da vida? E por falar em vida, não seriam estes os dias que ela pulsa mais forte e plena de exageros, sem amarras, sem limites, o suor misturado ao ritmo a sensualidade independente e de ninguém?

Por treze anos o melhor companheiro que toda a mulher poderia querer, carioca bonito sorriso lindo braços fortes e protetores sempre alegre e animado carinhoso querido com suingue e muito samba no pé o corpo cuidado moreno gostoso, tudo entendia pelo olhar, não há nada melhor do que assistir a um show na praia, abraçados, sob o luar e o mundo de estrelas, de um lado o Pão de Açúcar, do outro a igreja matriz de Paraty, sob os pés a areia, a grama do Pacaembu e a do Morumbi, o ginásio candango com jeito de nave espacial, o rio de água gelada e pedras de Penedo o frescor do verde de diferentes cores de Visconde e vizinhanças.
Dizem que quem assistiu a um desfile assistiu a todos, mas não é bem assim; e, sim, todos deveriam ao menos uma vez na vida curtir o ensaio na quadra de alguma boa escola do Rio e o desfile principal na avenida, de preferência em algum lugar seguro e confortável, com visão privilegiada e vibrar com a entrada da bateria e deslumbrar-se com o som da bateria e encantar-se com o ritmo contagiante do Olodum na terça da bênção no Pelô em Salvador. E depois do banho daquele mar, daquele sol que brilha e avermelha a pele branca a cerveja gostosa e gelada e os melhores bolinhos de aipim e camarão que ninguém consegue imitar.
Dei graças a estes dias de carnaval que serviram para descansar sem horário, sem necessidades, sem tempo para nada, os músculos soltos leves, a mente solta e leve, o coração solto suave e leve, os ombros soltos e leves tão leves como jamais foram, o carinho retribuído pelo filho e pelo cão. Aqui, a sentir o frescor do verde oasis no meio de tanta construção, a curtir a lentidão na saborosa ingestão dos alimentos sem tempo, sem correr, sem o massacrante ter que. É exatamente isto que eu quis nestes dias de carnaval, além de bons filmes, boas leituras, plantas tratadas, a suave moleza e, de repente, me dei conta que era noite de Oscar, alguns filmes e atores que tanto aprecio e um único canal a passar a celebração – por que insistem na infeliz tradução simultânea? – e ainda consegui assistir a premiação da melhor música, do melhor ator, atriz, filme. Achei muito legal a presença de tantos atores e atrizes, cada um a homenagear algum indicado (o jeito carinhoso de Shirley MacLain falar com Anne Hathaway foi coisa de mãe boa conselheira). E o susto das crianças casadas, futuros pais de família e atuais donos de um rebelde dachshund, salsichinha aparentemente encrenqueiro ou mais incompreendido do que rebelde (na noite da mesma tarde que almoçamos juntos, em um restaurante diferente num bairro antigo da cidade, e nossa chegada rápida graças ao competente GPS), ao assistirem Mamma Mia e se lembrarem do rosto desta tia. Tia, por favor, fala com a minha irmã que anda desanimada e quer parar de advogar. Falo. Quem diria que Bollywood chegaria à Hollywood e nos traria a feliz lembrança de 1998, do único canal que assistíamos naquela ilha grega plena de musicais da MTV Indiana. Não quis mais nada neste tempo de carnaval, salvo quebrar a rotina, descansar e esquecer o relógio, em paz.

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