quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Vinhos, comidinhas e bom papo

"A parte dura desta humana lida
é dizer sim na hora do não,
escolher mal entre silêncio e grito,
entre a noite e a explosão
do dia.

Ceder quando devíamos negar, dizer
não em lugar de afirmar, partir
quando era bom amar, fechar-se
em vez de resgatar
a vida.

Sermos tão incertos e indecisos,
perdendo o trem, a hora,
o agora: mas a gente
não sabia."

Lya Luft

Com o jeito que é só dele, meu filho me lembra que trabalho começa de manhã e acaba no final da tarde para recomeçar no dia seguinte de manhã, que há o tempo de descanso e que a noite não foi feita para trabalhar, noite após noite, até bem tarde, porque ele sabe como foi o tempo passado do trabalho demasiado e não quer que a mãe dele repita a dose, agora, que a vida é presente. Ele está certo. Sou grata por seu lembrar conjugado com amar, mesmo se ao telefone respondo, quase peço mais meia hora, mais uma horinha e que ele não deixe de atender o celular quando eu ligar para avisar que cheguei em casa e sobrevivi à garagem do prédio de escritórios que fica um breu depois de certa hora e o caminho até a garagem do meu prédio, que tem lá seus meandros. Foi nesse horário doido de extremos, que deve ser reparado o quanto antes, que recebi o convite para nos encontrarmos na casa de uma amiga e colocarmos a vida em dia na noite que o marido dela sai para ministrar aula. Reencontramos-nos na Cultura, em noite de autógrafos (outra pausa feita no horário além do horário) de livro do qual o marido participou. Temos que nos reunir em casa. Pois lá fomos. O que levar? Algumas meninas costumam preparar gostosuras com as próprias mãos, ou, as mãos das mães e das empregadas, mas eu não tenho tempo durante a semana para preparar algo a mais e comprar, com esse forte calor, seria trabalhoso por que não teria onde guardar durante o dia, assim, a saída foi levar as duas melhores garrafas de vinho tinto (Chileno e da Toscana) que encontrei na loja perto do escritório. A diferença adicional foi a colorida sacola reciclável e reutilizável que fiz questão de comprar, ao invés de deixar que embalassem as duas garrafas. A melhor rota do trabalho para o Campo Belo, diversas sugestões, e saio correndo, já meio atrasada, no momento exato que mais uma coisinha poderia ser feita.
Gosto muito dessas reuniões em volta da mesa, nós mulheres, durante horas a beliscar as comidinhas e a bebericar o vinho servido em belas taças de cristal. Gosto dessa magia que o encontro de mulheres proporciona, do riso solto, do relaxar, das conversas infinitas e tão variadas que só mulheres sabem manter, dos rostos rosados pelo vinho maroto. Gosto do carinho que trocamos, dos planos, dos sonhos, do ânimo, do incentivo, das mazelas semi ditas e do tempo que não parece passar. Combinamos que esses encontros serão mensais.


Imagem de Gary Winogrand

Nenhum comentário: