domingo, 8 de fevereiro de 2009

Novas mulheres

“Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.”

Pablo Neruda

Certas experiências semelhantes que ocorrem em determinadas fases desta vida e os comentários espirituosos que fazemos, sempre rendem sonoras risadas, além da certeza de que esta geração, a minha geração, transforma conceitos, ideias e cria novos comportamentos.
Um pouco cansadas, nem tão cansadas, mas bem conscientes do caminho percorrido até agora, das dores das alegrias das vitórias dos fracassos e da estrada à frente muito mais interessante e do nosso caminhar, nem tão célere, nem tão lento, no ritmo certo, na melhor cadência, suavemente, com as expectativas no lugar os sonhos na medida certa e a imensa descoberta que permite o amar-se e a deliciosa convivência com uma e todas que estão em nós. Um tantinho assim de confusão, e por que não, afinal, filhos não teremos mais e os netos algum dia virão e percebemos que poderíamos nos permitir o bom humor e a leveza dos comentários espirituosos – calma, querida, nem tão espirituosos assim, por que você se sente como se sente e aos poucos descobre que os outros não a vêem do jeito que você se sente, mas como uma mulher, baby, uma mulher interessante e pronta de verdade para a vida que você quer.
Estamos na fase das pesadas muralhas que desmoronam e deixam à mostra belos jardins internos cultivados com esmero e amor sem fim. Tempo demasiado foi dedicado à construção desse monte de pedra pesada sobre pedra pesada que agora ruem como cartas príncipes reis rainhas proteções, nem tão protetoras, que eram contra o forte sopro da matilha de lobos que vivem do lado de lá, e alguns entraram e sairam, sim, porque na vida, assim como em toda história encantada, existe o lobo mau que derruba casa de porco que usa roupa de menino, engana a garotinha no meio da floresta e engole a vovozinha inteira, que ressurge firme e forte após a cesárea que o caçador fez na barriga do bicho - eis que o lobo devolve à luz a velhinha de touca e camisola, que sobrevive, e as velhinhas sempre sobrevivem. Como perdem tempo esses lobos, para no fim terem na própria lobice a única e pior companhia, a essência de lobo esperto com alma de escorpião que mata sapo e mata tudo que sente pela frente pelos lados por trás, seca a vida, muda o rumo, impõe compasso e repete as mesmas atitudes até que, bem, até que certo dia, mamãe ganso e Esopo mandam de lembrança uma loba com essência de loba esperta e alma de escorpião fêmea e aí a coisa pega (lobas espertas com almas de escorpiões fêmeas são megeras de verdade, que não parecem ser megeras, por isso, também, muito difíceis de lidar) descobriram?

Pipas multicoloridas voam livres e belas no céu do mais belo azul que pode existir. Somos pipas. Risos soltos, cabelos ao vento (com a licença poética da melhor calibradora alquimista que põe no devido lugar tudo o que a perversão alheia desandou) porque de chapeuzinho, caçador e vovozinha todas temos um pouco.
Espere mais trinta anos para permitir-se dizer o que lhe der vontade e fazer as coisas ridículas que surgirem em sua cabeça, porque agora, ora, ora, menina moça ainda, derruba muralhas e sabe que no universo a ser descoberto, graças a Deus, o comportamento conquistado oscila entre a terra e o mar.


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