Algum dia você resolve entrar no restaurante que fica naquele sobrado charmoso na ladeira conhecida, distante duas quadras da mais paulistana das avenidas e se encanta com as plantas bem cuidadas que caem pela parede, que estão em vasos, em jardineiras, então, (lembra das jardineiras com espinhos feiosos e sente saudade por que o amor verdadeiro não cede espaço, nem deixa de existir) repara na mesa com tampo de mosaico e sabe que algum dia montará seu próprio quebra-cabeça de ladrilhos multicoloridos quebrados do jeito que você quer. Repara nos pôsteres de bichos engraçadinhos, de plantas, em especial de dois amorosos porquinhos aconchegados sobre a grama acompanhados pela frase eles são nossos amigos e decide que daquele dia em diante o restaurante será conhecido como o amigo dos porquinhos.
Duas sensações iniciais ruins: Sobre o aparador gelado alguns pratos com coisas totalmente desconhecidas e o fato de não servirem coca-cola. Como não tem coca-cola? falei indignada, nem pepsi? Justo a coca-cola que eu considerava essencial para conseguir engolir a comida que servem em restaurantes perto do trabalho tão, mas tão diferente do alimento delicioso saudável e leve preparado pela minha mãe... Seis meses de almoço vegetariano e alguns adeptos adicionais ao amigo dos porquinhos, fizeram com que a coca-cola comprada no posto da esquina perdesse a razão de ser e me dão a sensação que ajudo meu organismo, que respeito cada vez mais meu slow food no work, se possível, sem nada falar – aprendi a deixar bem claro que durante os almoços da semana não quero pressa, nem falar sobre trabalho.
Delicio-me com vegetais, verduras, grãos, frutas (sempre gostei de vegetais, verduras, grãos e frutas, afinal, fazem parte da refeição mediterrânea que me seduz) doces, sucos diferentes, comida quente saborosa, o adocicado casado com o salgado do jeito que aprecio e a mistura criativa genial que incentiva o paladar com sabores diferentes e dispensa – não sei onde encontram tanta criatividade – qualquer animal amigo no preparo. Tenho uma hora para o almoço e lá fico uma hora, a curtir do jeito que gosto a salada, a sopa (três tipos de sopas diferentes todos os dias) o prato quente, o suco diferente e mastigo mais e não falo, nem penso e adoro o silêncio, que só é interrompido se, às vezes, algum grupo de gralhas aparece e atrapalha a especial harmonia. As pessoas que habitualmente frequentam aquele restaurante têm o jeito dos que se respeitam, se curtem e entendem que a refeição é momento sagrado.
Não, não virei vegetariana, por que nos finais de semana, se der vontade, vou com filho à churrascaria, como picanha com prazer e mesmo durante a semana curto muito o sanduíche com pão especial cream cheese salmão defumado limão e azeite de outro recanto próximo que também escolhi para mim, mas reconheço que sou mais feliz sem comer carne todo dia, sem beber coca-cola toda hora, sem anestesiar o paladar com comida de qualidade ruim.
No entanto, confesso que não vejo qualquer graça na proteína de soja e continuo a achar engodo chamarem de feijoada o que não é feijoada, bacalhoada o que não tem bacalhau e hambúrguer o que não tem carne. Tampouco uso bolsa e sapato de 'couro vegetal'. Sem exageros, sem ser radical.
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