domingo, 18 de janeiro de 2009

Ressonância nuclear eletromagnética com calda de chocolate

O novo médico especialista pediu ressonância nuclear eletromagnética para entender o que acontece e decidir o que fazer. Até o dia do exame fiz uso de novo antiinflamatório, pomada fitoterápica cheirosinha e bolsa gelada. Sem salto alto, nem ausência total de salto, somente sapatos com saltos de três centímetros – moleza. Além da recomendação expressa de respeitar meu conforto: se doer para.
Marquei o exame para a noite de sexta feira, após o expediente. A única orientação foi o jejum duas horas antes da ressonância. Naquele dia, durante o almoço-piada com as meninas, ouvi comentários sobre crises de claustrofobia, pavor e anestesia para enfrentar a situação. Não me impressionei por que não temo lugares fechados, nem exames diferenciados, desde que me expliquem o que e como será feito. Se eu aprendo o procedimento, ou parte dele, faço questão de colaborar para que o resultado seja bem definido e eficaz.
Ao deixar o escritório, já bem
atrasada, lembraram-me sobre o equipamento de ressonância que pegou fogo, seguido do comentário principal: Bem na hora que uma mulher fazia o exame. Brincadeirinha? Não, aconteceu mesmo. Vi as fotos, acompanhei parte do caso, mas é lógico que eu havia me esquecido desse detalhe até a carinhosa recordação quarenta minutos antes do meu exame.
Questionário de risco preenchido e lá fui eu para o túnel do tempo, apelido carinhoso que dei para aquele aparelho. Olhei a marca, não era a mesma do incendiado. Cumpri o jejum, nenhum lanchinho três horas antes do exame, mas não deixei de beber água. Com o calor que fazia nesta terra, passar sede estava fora de questão.
Estranhei quando me deram protetor auricular. Ah, outra descoberta: Você tem tatuagem? Então, segundo o enfermeiro que me auxiliou, durante o exame você sentirá a área tatuada queimar, mesmo que a sua tatuagem esteja na ponta do seu nariz e a ressonância seja feita no dedão do seu pé. Se queimar avisa, ta. E quem consegue avisar alguma coisa com aquela barulheira toda?
Nada de claustrofobia, anestesia, fogo ou medo. Seu eu senti a pele tatuada queimar? Não. Acho que a tinta que usaram na minha tatuagem não tinha chumbo, ou qualquer outro metal, que costumam misturar para agregar bela arte aos nossos belos corpos (não acredito! você tem tatuagem?!)
O duro da ressonância nuclear eletromagnética – e eu desconhecia esta característica – é o barulho que a máquina faz durante o exame. Parece o som de um bate-estaca incessante e cadenciado localizado a poucos centímetros dos ouvidos. Não adianta protetor auricular, não adianta tentar cantar mais alto, nem deixar seu corpo e realizar viagem astral para Shangrilá com conexão em Timbuctu, que a barulheira continua. Continua e, por incrível que pareça, dá sono e entontece. O quase dormir, estado no qual entrei durante o exame, segundo a biomédica que lá estava, é natural. Será essa a mesma razão que faz com que crianças deitadas em cadeiras ou bancos improvisados, durmam em plena festa super barulhenta, enquanto seus pais, momentaneamente, se esquecem que tem pimpolhos? Será barulho intenso o motivo que deixa os dervixes em transe? Mas eles rodam, rodam e rodam ao som de tambores bate-estacas ritmados, e eu não dei uma rodadinha sequer. Saí do túnel do tempo tonta, sonolenta, desnorteada e com enjôo. Dirigi para casa desse mesmo jeito e cheguei direitinho porque meu anjo da guarda é muito bom, a Paulista é uma reta e tem faixas bem definidas, o carro que ia a minha frente não tinha pressa alguma e seguiu até o final da avenida na pista da direita, bem ao lado da faixa exclusiva para ônibus. Acho que aquele motorista também fez ressonância no mesmo dia. Janela aberta para entrar ar fresco, som suave para aliviar a tensão, algumas orações pelo meio do caminho e cheguei bem. Cansada e bem. Se dirigir, não beba. Se fizer ressonância, não dirija,

Passada a brincadeira entrarei na fase do resultado. E quem sabe qual tipo de folia será.

Imagem de Norman Rockwell

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