Sapatos, não há mulher que não se encante com eles. Sapatos.
Não sou viciada em sapatos e não faço parte do exclusivo grupo de mulheres que possuem centenas de sapatos organizados e expostos em armários-santuários. Não. Quantos pares de sapatos eu tenho? Alguns, porque também herdei sapatos de minha mãe - sim, herdei sapatos de minha mãe - todos feitos a mão, nas cores e com saltos nos tamanhos determinados por ela, além da forma especial e da pelica de primeira qualidade. Lindos! Bolsas combinando, lógico. Sem o exagero de uma bolsa para cada par de sapato, mas com a sabedoria na escolha de bolsas clássicas, belas e elegantes, que combinam com vários pares de sapatos.
Minha mãe tinha excelente gosto, era muito elegante, conhecia as melhores coisas e sabia a medida certa de tudo, além de preservar o bem estar e, principalmente, a saúde.
Saltos muito finos e extremamente altos estavam fora de questão. Formas de sapatos que não respeitassem o formato dos pés eram impensáveis. Sapatos pesados? Jamais! A leveza e a qualidade dos sapatos eram primordiais. O resultado? Elegância, harmonia, pés bonitos e bem cuidados, além de sapatos duráveis. Nada de dedos amontoados, joanete, unha encravada, calosidade. Nenhuma deformidade nos pezinhos lindos e sensíveis, os dela e os meus.
Acredito que não há mulher que não se sinta portadora de um encanto irresistível ao usar um bom par de sapatos elegantes. Os sapatos expõem intenções, comportamentos e o estado de espírito de quem os usa.
Sem dúvida, são símbolos e representam, por exemplo, a liberdade de Juliette Binoche em Chocolat (2000) e a emoção de Diane Keaton em Surrender Dorothy (2006). É interessante essa idéia do poder que um bom par de sapatos causa.
O fascínio pelos sapatos é histórico. Outro dia, lembrei-me das chinesas nobres, que desde bebês tinham seus pés enfaixados para que não crescessem. Na China imperial as mulheres com pés minúsculos eram consideradas belas. Quer se casar com um nobre chinês, homem de posses, minha filha? Então, enfaixe seus pezinhos e aguente a dor. Presumo que adultas também dormiam com seus pezinhos deformados escondidos por faixas de tecidos. Aliás, houve época em que na China, o nascimento de filha mulher era considerado mau agouro, prenúncio de pragas nas plantações, catástrofes climáticas, perdas financeiras. Mulheres chinesas que pariam mulheres, assim como as rainhas que pariam princesas, não sabiam parir. O primeiro bebê deveria ser varão. O segundo também.
Os pés das camponesas chinesas eram normais, mas imensos para o padrão da época. Talvez guardassem certa semelhança com os pés esparramados em chinelos-pranchas alemães Birkenstock. Cresci ao lado de suíços (ioleleihu), que usavam sandálias-barcas Birkenstock com meias. Resolvi poupar-nos dos tamancos Dr.Scholl. Na Suíça, no final da década de noventa, eram as havainas - que não soltam as tiras e não tem cheiro - que faziam muito sucesso. Mas por que passei dos sapatos ao parto? Porque desde o começo as mulheres eram e continuam a ser tratadas de forma tão diferente, muitas vezes contrária à sua natureza e saúde.
Qual a diferença entre o atual sapato-fetiche de salto altíssimo e o antigo sapato minúsculo, que deformava os pés? Nenhuma. Mas seria bom se quem os faz e é louco por eles, os usasse todos os dias, sem exceção.
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