
Acordei uma hora depois da que comumente acordo. Desacelerei o passo, curti o café da manhã, fiz carinho no cão, li o jornal com calma, tomei banho demorado. Menos de quatro horas de sono não são suficientes para que o corpo descanse, para que a mente descanse. Voltei logo depois do almoço e lá fiquei até às oito horas da manhã seguinte. Plantão de letras e ideias. Meu filho me trouxe um lanche às dez da noite. Durante a madrugada o barulho do ar condicionado me fez lembrar os longos vôos das viagens feitas. Era assim, do mesmo jeito, durante as doze horas de vôo eu lia e ouvia música. Comecei com Callas e parei bem depois. A cada hora meu filho ligava - ele também não dormiu. O cão ficou no meu quarto a me esperar. Ao sair fui direto ao consultório da minha médica. Foi na sala de espera que o cansaço chegou inteiro e eu comecei a cochilar. Conversar com minha médica foi a melhor coisa do dia. Sair do consultório da minha endócrina com três livros de Karen Horney emprestados não tem preço. É carinho puro. Fui à padaria preferida e segui à risca a determinação da doutora xará: Coma alguma coisa antes de dormir para que você não tenha uma crise glicemia. Suco de melancia, um sanduíche e chocolate quente. Sobre a minha cama encontrei uma garrafa de água mineral que meu filho havia deixado para mim, outro carinho. Sobre o criado mudo dele, deixei um croissant quente com catupiry e dois cookies fresquíssimos, mais carinho. Acordei três horas depois. Banho demorado, o conselho do filho para consumir carboidrato e voltei ao ar condicionado. Saí às 8 horas da noite, quando meu filho foi me buscar. Na insensatez sentir-se capaz.
Imagem obra de Gustav Klimt
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