quarta-feira, 6 de maio de 2009

O velho coelho só se reproduz no espelho

Ambígua volta
em torno da ambígua ida,
quantas ambiguidades
se pode cometer na vida?
Quem parte leva um jeito
de quem traz a alma torta.
Quem bate mais na porta?
Quem parte ou quem torna?


Dizem, eu ouço e acredito. Não existe outra condição salvo esta: Alguém fala, eu ouço e ao ouvir eu acredito no que é dito, principalmente, se o dizer é ação praticada por ser amado. Eu ouço: Farei chover em três meses e eu acredito. Providencio guarda chuva, capa e sapatos impermeáveis. Altero a vida, me adapto e espero a chuva. De repente, ouço: Farei chover em seis meses. Continuo a ouvir e mantenho o guarda chuva a capa e os sapatos impermeáveis, apesar do calor insuportável. Para entender minha atitude misture amor, respeito, consideração e educação. Não se esqueça da credulidade e do real significado de cada palavra: Chuva quer dizer chuva e nada além de chuva, afinal, não brincamos, não praticamos qualquer jogo, nem desejamos mal a ninguém. É duro quando o amor, o respeito, a consideração, a educação e a chuva não são encontrados.

Poema de Paulo Leminski e hai-kai de Millôr Fernandes. Imagem obra de Anthony Quinn

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