ajuda o sol
com uma vela
Começou em dezembro do ano passado e, a partir de então, experimento situações inéditas como a dificuldade de andar, o temor de cair, a sensação de insegurança diante dos riscos que podem ocorrer com qualquer um, como tropeçar, esbarrar, perder o equilíbrio, virar o pé em algum buraco das calçadas européias lisas e limpas que temos (engraçadinha), ser empurrado e por aí vai. A dor. Dor ao descer escadas, ao tentar acelerar o inseguro passo, ao descer ladeiras, ao usar sapatos inapropriados e todos os sapatos parecem inapropriados. Conclusão: Minhas deliciosas caminhadas ficaram para trás e minha fragilidade ocupou espaço. Afinal, falamos sobre a base, a sustentação física.
Levar o cachorro para passear estava fora de cogitação, porque o pimpolho quadrúpede e peludo, embora de médio porte, é cão de arranque e há situações que a coleira peitoral e o braço firme não parecem suficientes. Aliado a tudo isso, os exames, as novidades, a especialista que especialmente nada soube explicar, os nomes inéditos, as qualificações que assustam, principalmente, quem não vive em estado de total alienação e teve câncer e encontra-se em época de pesquisa de câncer, os cinco ou dez anos seguintes à notícia sobre as células rebeldes que resolveram andar de jeito diferente. O trio insegurança, medo e dor deixa qualquer um fraco e triste.
Foi na semana passada, ao conversar com um das médicas que escolhi (são duas e ambas adotaram o costume de se desculparem pela inaptidão dos colegas de profissão), que comecei a tirar da cabeça o medo e a ser capaz de dizer o que sinto. Uau! Ser capaz de dizer exatamente o que sentimos é arte rara. E como nesta vida os desafios - desafios e o fazer pelo outro - são razões suficientes para superar, eis que me vi diante da necessidade de andar com o cão, não uma, mas duas vezes por dia, durante uma semana inteira.
E a dor, o temor, a insegurança? Coloquei no bolso e segui em frente.
Tenho minha crença e peço e agradeço e me comovo com os milagres diários.
Levar o cachorro para passear estava fora de cogitação, porque o pimpolho quadrúpede e peludo, embora de médio porte, é cão de arranque e há situações que a coleira peitoral e o braço firme não parecem suficientes. Aliado a tudo isso, os exames, as novidades, a especialista que especialmente nada soube explicar, os nomes inéditos, as qualificações que assustam, principalmente, quem não vive em estado de total alienação e teve câncer e encontra-se em época de pesquisa de câncer, os cinco ou dez anos seguintes à notícia sobre as células rebeldes que resolveram andar de jeito diferente. O trio insegurança, medo e dor deixa qualquer um fraco e triste.
Foi na semana passada, ao conversar com um das médicas que escolhi (são duas e ambas adotaram o costume de se desculparem pela inaptidão dos colegas de profissão), que comecei a tirar da cabeça o medo e a ser capaz de dizer o que sinto. Uau! Ser capaz de dizer exatamente o que sentimos é arte rara. E como nesta vida os desafios - desafios e o fazer pelo outro - são razões suficientes para superar, eis que me vi diante da necessidade de andar com o cão, não uma, mas duas vezes por dia, durante uma semana inteira.
E a dor, o temor, a insegurança? Coloquei no bolso e segui em frente.
Tenho minha crença e peço e agradeço e me comovo com os milagres diários.
Hai-kais de Millôr Fernandes
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