quarta-feira, 5 de maio de 2010

O nosso, o nosso, o nosso e o resto

Outro dia, enquanto eu esperava o cão na petshop, o céu ficou negro e a chuva mais parecia o início de um novo dilúvio.
Em pouquíssimo tempo, as pessoas que caminhavam na calçada ficaram com seus tornozelos dentro da água acumulada. Aquela rua nunca ficou alagada: É plana, larga, bem cuidada, travessa de ruas em declive.
Como chuva e cão cheiroso, devido ao banho recém tomado, não combinam, não houve alternativa salvo esperar o projeto de dilúvio passar.
O nível de água na rua subia e danificava os carros regularmente estacionados, mas, interessante: na petshop, que passou por recente reforma - subiram um andar, abriram o subsolo para estacionamento de carros - nenhum pingo da água acumulada na rua alcançou seu espaço. A explicação era óbvia e foi dita por um dos empregados da loja, prontamente calado, coitado, por sua colega mais esperta: Instalaram bombas ou sei lá qual dispositivo, que impedia a entrada de água da chuva no imóvel, resultando no nível anormal de água acumulada na rua.
Ora, vale proteger seu patrimônio, sim, mas em detrimento do patrimônio do outro? Proteger sua garagem recém construída no subsolo e prejudicar as pessoas que caminhavam com água na altura dos joelhos? Eu nada comentei, mas meu rosto sempre diz tudo e o rapaz falante concluiu: “Assim que a chuva parar as bombas diminuirão o nível da água da rua rapidinho”.
Rua que passou a ficar alagada, risco de contrair enfermidades pelo contato com a água suja, carros regulamente estacionados danificados e o imóvel protegido por um sistema subterrâneo qualquer, causador do alagamento na via pública. Ou seja, o dono da petshop adquiriu o direito de controlar o nível de água da rua.
Será que existe alguma licença especial emitida por órgão público competente para tal feito? Somos tão cautelosos com o que é nosso e prejudicamos os demais: Essa não é forma honesta e correta de agir.

Um comentário:

Gerana Damulakis disse...

As cidades brasileiras e a chuva: tema para uma tese.Fenômeno repetitivo.
Aquelas últimas chuvas do Rio foram desastrosas e o que se fez foi culpar o Ministro das Cidades por ter destinado mais de 60% das verbas para tal fim (contenção de encostas, bueiros e afins) para a Bahia (porque Gedel é baiano). As chuvas chegaram aqui e, realmente, o estrago não foi expressivo (pelo menos isso).