Segundo dia de exames, tive que sair cedo de casa, antes das sete horas da manhã. Pedi carona para meu filho, que me deixou no mesmo laboratório do dia anterior. Mais exames, seis de imagem e a diferença de atendimento dos diversos médicos.
Eu quero saber o que é encontrado, qual a avaliação, possibilidades, potencial malignidade. Eu quero ouvir opiniões. Eu não sou um corpo que se submete à geléia gelada e ao aparelho que leva as imagens do meu interior ao visor. Eu tenho uma mente curiosa e não quero esperar quinze dias para saber o que eu devo saber agora.
O último médico, igualmente gentil e eficaz, ao explicar o resultado do exame comentou sobre seu fascínio por Meryl Streep, sobre suas aulas de canto e sapateado e sobre a apresentação que fez no teatro do SESC. Aquele médico manauense, apaixonado por artes tanto quanto pela sua profissão, devolveu-me o ânimo que eu precisava para encerrar a maratona da semana.
Ao sair do laboratório eu vi um rapaz com a testa ensanguentada. Ao me aproximar aflito ele repetia: “Não vá por aquele caminho”. Outra senhora aproximou-se e após acalmarmos mais uma das inúmeras vítimas de roubo (levaram sua carteira, mas ele impediu que levassem o notebook e por isso apanhou) desta cidade sem qualquer proteção, seguimos, a senhora e eu, pelo caminho tão avisado. Eu não quero ter medo de andar pela minha cidade. Não quero.
Meu filho ligou para meu ex-namorado a quem ele chamava de pai nº 2. Foram quase treze anos de relacionamento, o melhor companheiro e o mais querido do meu filho e dos amigos dele, no começo, todos garotos de sete anos, não mais. Pelo comentário do pimpolho foi o telefonema que eu gosto de fazer: sem me identificar engatar de imediato a conversa para receber a reação mais genuína possível. Gargalhadas de ambos os lados, lógico que o mote foi o jogo do Corinthians contra o Flamego. Também conversaram sobre a vida e trabalho. Conselhos profissionais recebidos, saudades diminuídas, esse telefonema deixou-me feliz pela iniciativa de meu filho e pela recompensa do esforço que dediquei desde que me divorciei: jamais permitir a aproximação de minha família de alguém que não tivesse valores e caráter. Ao menos, eu me esforcei bem.
Dois anos após desmancharmos, ele se casou com minha xará e hoje tem dois filhotinhos lindos. Eu sei que posso contar com ele, como ele também sabe que pode contar comigo e com a minha constante torcida em favor de sua felicidade.
O Facebook tem se mostrado excelente meio para encontrar pessoas há anos desaparecidas de minha vida. Amigas do tempo de escola, do clube, a irmã do ex-namorado citado acima, e pessoas que me conhecem desde eu que nasci. É reconfortante retomar raízes e relacionamentos que fazem bem. É muito bom colocar a vida em dia.
O querer bem é fundamental. Desejar o mal é perda de tempo, é energia desperdiçada, é o desconhecimento que o mal desejado também se aloja em nós. Quando é impossível desejar o bem, quando você esgota sua elástica sublimação, então, não deseje nada. Infelizmente há vezes, raras vezes, nas quais o nada é o máximo.
O querer bem é fundamental. Desejar o mal é perda de tempo, é energia desperdiçada, é o desconhecimento que o mal desejado também se aloja em nós. Quando é impossível desejar o bem, quando você esgota sua elástica sublimação, então, não deseje nada. Infelizmente há vezes, raras vezes, nas quais o nada é o máximo.
Imagem de Lilian Bassman
Citação de Bachelard
Um comentário:
Mas não já tinha dado tudo bem? Vc contou da torta, da vontade de comemorar. E, inclusive, contou tão bem, tive vontade de participar etc.
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