quarta-feira, 5 de maio de 2010

Mulheres que amam de mais por se amarem de menos

Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais
Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim
Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)
Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair

Chico Buarque

Cada vez observo mais mulheres capazes de aliar a culpa à traição e carregar esse peso para o resto da vida (e dos futuros relacionamentos, se é que algum dia conseguirão manter algum relacionamento sadio). Explico melhor: São mulheres apaixonadas e crédulas – toda mulher apaixonada é crédula - que foram traídas por seus companheiros com tal maestria, a ponto de acreditarem que elas deram todos os motivos que resultaram na traição.
É de amargar ser traída e ainda por cima sentir-se culpada por ter sido traída. Lembra a crença da doença resultante dos mandos e desmandos das “vidas passadas”: ora, alguém está doente e ainda deve sentir-se culpado por alguma coisa que, possivelmente, fez em, digamos, 1459?
Os sinais de que algo não vai bem são expostos com claridade cristalina no dia-a-dia: São as pequenas brigas, ou as brigas silenciosas, os gestos, os olhares, o tom de voz, as ironias escancaradas ou disfarçadas.
Todos sabem, todos sentem, alguns até pressentem. Eu não sei qual é a solução para essas crises que acontecem com quase todos os casais, mas não acredito que a inclusão de uma terceira, quarta ou quinta pessoa, que satisfaça afetuosa e sexualmente um dos cônjuges seja a melhor solução. Não é.
Encarar o problema com verdade e respeito parece ser a melhor pedida. Dar um tempo? Não sei se este artifício vale para todos. Você não está feliz e mantém relacionamento paralelo sério, ora, conclua um dos relacionamentos, saia de casa, construa outra vida. Ah, é complicado sair de casa porque a casa é da parceira, então, arrume suas coisas e vá para um flat, para a casa de um amigo, de algum parente querido. E os filhos? Filhos nunca seguraram casamento algum. Existe a questão patrimonial? Isso também se resolve com uma boa conversa e caso os ânimos fiquem acirrados, com o auxílio de um bom advogado. O que não pode ser, o que não cabe mais num mundo que evolui e necessita de ações cada vez mais honestas e verdadeiras, é a manutenção de comportamentos do século XIX e as barreiras que, então, eram impostas pela sociedade.
É necessário assumir-se integralmente para depois assumir o outro. É simples, acreditem. Requer coragem, respeito e honestidade.

Imagem de Lilian Bassman 

Um comentário: