quinta-feira, 3 de julho de 2008

Esse sonho mão mais

Algum dia, quem sabe, eu aprenda mais sobre sonhos. Quase não sonho. Dizem que todos sonham, mas há os que não se lembram de seus sonhos. Eu não sei.
Mas reconheço a existência de sonhos premonitórios. Ou será que nosso subconsciente registra com rapidez certas situações, não assimiladas racionalmente, e as traz de volta nos sonhos para nossa compreensão?
Recentemente, meu filho sonhou com determinado animal. Procurei o significado e o alertei: Tinha tudo a ver com uma situação que ele vivia.
Sonhar com algumas pessoas é sinal certo de tristeza ou contrariedade.
Eu que não sonho, ou não me lembro dos meus sonhos, tive um sonho triste e ruim na noite passada. Corrijo: Tive um pesadelo, rico em detalhes, entre as cinco e seis da manhã. Vi nesse sonho o que eu jamais quis ver na vida real. Com certeza se encaixou no sonho com pessoas que deixam o dia da gente ruim e esquisito; afetam nossa concentração e ânimo, desequilibram nossa boa energia.
Assim como a memória, talvez devamos ter sonhos seletivos.
Não segui o conselho de um amigo, que me falou para colocar uma tesoura de baixo do travesseiro para cortar pesadelo. Será que isso adianta? Com tesoura, ou sem, aquele foi um sonho para nunca mais.


Hoje eu sonhei contigo
Tanta desdita, amor
Nem te digo
Tanto castigo
Que eu tava aflita de te contar

Foi um sonho medonho
Desses que às vezes a gente sonha
E baba na fronha
E se urina todo
E quer sufocar

Meu amor
Vi chegando um trem de candango
Formando um bando
Mas que era um bando de orangotango
Pra te pegar

Vinha nego humilhado
Vinha morto-vivo
Vinha flagelado
De tudo que é lado
Vinha um bom motivo
Pra te esfolar

Quanto mais tu corria
Mais tu ficava
Mais atolava
Mais te sujava
Amor, tu fedia
Empestava o ar

Tu, que foi tão valente
Chorou pra gente
Pediu piedade
E olha que maldade
Me deu vontade
De gargalhar

Ao pé da ribanceira
Acabou-se o liça
E escarrei-te inteira
A tua carniça
E tinha justiça
Nesse escarrar

Te rasgamo a carcaça
Descemo a ripa
Viramo as tripa
Comemos os ovo
Ai, e aquele povo
Pôs-se a cantar

Foi um sonho medonho
Desses que às vezes a gente sonha
E baba na fronha
E se urina todo
E já não tem paz

Pois eu sonhei contigo
E caí da cama
Ai, amor, não briga
Ai, não me castiga
Ai, diz que me ama
E eu não sonho mais.

Chico Buarque

Imagem de Ansel Adams

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