terça-feira, 13 de novembro de 2007

O primeiro sebento

Para espanto de alguns, nunca estive em um sebo, nem comprei livro algum em sebo. Explico melhor: Sempre fui ratinha de livraria, aliás, em livrarias, em certos museus e certas lojas de CD permaneço horas sem que hora alguma exista, me perco, entro no mais puro êxtase e reconheço que a existência vale a pena. E se algum vendedor lê muito, ouve música o dia inteiro, é sensível para reconhecer meus gostos e ousado para indicar novidades, então a conquista é fiel, para sempre e o considero o mais novo membro da reduzida família.
Minha relação com livros sempre foi intensa e respeitosa. Aprendi com meus pais a ler muito e a bem cuidar dos livros. O sábio ateniense me presenteou com frases que guardo para o resto da vida “leia o que cair em suas mãos, minha filha” foi uma delas. Sigo à risca. Saudade de você, papai.
Grifar livros, fazer anotações em suas páginas foram atos ousados e meio ressentidos, somente praticados no período da faculdade de Direito, quando tempo e volume de leitura eram incompatíveis - doutrina excessiva para assimilação imediata. Assim, Washington de Barros, Sílvio Rodrigues e Pontes de Miranda foram maculados, coitados, pelo lápis que corria solto pelas suas páginas.
Volto à fidelidade e lembro de Tadeu e Enoque. O primeiro, gerente de uma livraria, conseguia qualquer livro de Direito e indicou excelentes novidades em literatura, reconheço, muitas vezes acompanhadas pelo meu desafiador olhar de descrença, daí sua insistência: “Leva que você vai gostar” e eu realmente gostava. Tadeu foi responsável pelos livros de meu filho e encontrava as excelentes opções que minha mãe garimpava nos suplementos literários do Estadão e de outros periódicos – falei que vira família. Enoque trabalhava em uma loja de CD no mais charmoso shopping de Brasília e tinha a gentil preocupação de trocar a música alta, chamariz habitual desse tipo de comércio, cada vez que eu aparecia. Saía o pagode e o sertanejo, afinal era Brasília, e por encanto apareciam sons geniais. Ele entendia muito de boa música, conseguia qualquer CD e trouxe de volta o eficaz “leva que você vai gostar”.
O encanto aumentou com a Wom (uma lojinha que ficava ao lado de casa – era só andar pela alameda de árvores e atravessar a rua entre as super-quadras, puxa! Como era gostoso morar naquele lugar) e os CD importados, muitas vezes fora de catálogo, que faziam parte da brincadeira. A relação de CD que a Wom importava era de deixar qualquer um impressionado e a graça adicional era querer alguma coisa fora daquela fantástica lista. Era desafiador descobrir alguma novidade recém lançada no exterior, ou, esquecida no tempo e no espaço e pedir para o pessoal afiado daquela loja encontrar. Nunca falharam.
Há dias organizo minhas músicas no i-tunes e estou feliz com o que descubro e volto a ouvir. Sobre o sebo? Ora, indicar livro esgotado é nisto que dá. Fui atrás de uma dica e não encontrei outra solução. No final da tarde de ontem, parei a análise do processo em seu terceiro volume e procurei o Osvaldo para aprender sobre sebos. Não existe alguém que conheça mais sobre sebos do que o Osvaldo, nem quem saiba sobre Responsabilidade Civil tanto quanto ele. Pode parar com essa cara de espanto nipônico porque nunca fui a um sebo e me ensine o caminho. Liguei para o primeiro, segundo, terceiro – livro esgotado em sebo é demais! – surgiu a indicação de um site muito legal que administra mais de trinta e sete mil livros e lá fui eu entusiasmada com o desafio de encontrar o exemplar. Está lá, nas mãos do simpático Robinson, num sebo carioca em plena Visconde de Pirajá. Queridinha você mora perto de Ipanema? – pergunta bobinha, lógico que Humaitá não fica distante – seguida pelos engraçados comentários sobre o livro, seu título, conteúdo e os desvarios desta irrequieta garota. Pelas suas risadas entendi que você também ficou interessada, por isso, mandarei o livro de volta assim que terminar a leitura. Divertida brincadeira que rompeu a rotina. Romper a rotina é bom demais.

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