domingo, 4 de novembro de 2007

Lya Luft

"Quem - estando ausente - entra no quarto
Quem deita ao lado meu, quem passa
No meu coração seus lábios quentes, quem
Desperta em mim as feras todas
Quem me rasga e cura
Quem me atrai?

Quem murmura na treva e acende estrelas
Quem me leva em marés de sono e riso
Quem invade meu dia após a noite
Quem vem – estando ausente -
E nunca vai?"

* * *

"Se te pareço ausente, não creias:
Hora a hora o meu amor agarra-se aos teus braços,
Hora a hora o meu desejo revolve estes escombros
E escorrem dos meus olhos mais promessas.

Não acredites neste breve sono;
Não dês valor maior ao meu silêncio;
E se leres recados numa folha branca,
Não creias também: é preciso encostar
Teus lábios em meus lábios para ouvir.

Nem acredites se pensas que te falo:
Palavras
São o meu jeito mais secreto de calar."

* * *

"Tão sutilmente em tantos breves anos
Foram se trocando sobre os muros
Mais que desigualdades, semelhanças
que aos poucos dois são um, sem que no entanto
deixem de ser plurais:
talvez as asas de um só anjo, inseparáveis.
Presenças, solidões que vão tecendo a vida,
O filho que se faz, uma arvore plantada,
O tempo gotejando no telhado.
Beleza perseguida a cada hora, para que não baixe
O pó de um cotidiano desencanto..

Tão fielmente adaptam-se as almas destes corpos
Que uma em outra pode se trocar,
Sem que alguém de for a o percebesse nunca."

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