terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Miscelânea

Para o casal amoroso a conquista é exercício constante.

A pimenteira tem florzinhas brancas e delicadas, pimentas de um vermelho vivo intenso e brilhante, e outras verdes, certamente com sabor mais suave, imaturas, que em poucos dias conhecerão a magia da vermelhidão incandescente na boca da gente. Está aqui o vaso vistoso da pimenteira, próximo das diversas violetas multicolores, das azaléias brancas e rosas que aparecem quando bem entendem e dos lírios da paz, os mais presentes.  
Experimento, faz parte da vida, e acrescento novos sabores e aromas ao alimento preparado: Pimentas vermelhas, gengibre, novas ervas e especiarias - o sabor mais adulto, brinco - e peço que me avisem se exagero. Oscilo entre o sabor delicado e o instigante, desconsidero o temor das pimentas e embora retire suas sementes para suavizar o ardido, também percebo o quanto se harmonizam e aromatizam a refeição concluída. Eu diria que estou bem próxima da excelência do verdadeiro sabor indiano e não se enganem, porque a real comida indiana não é ardida e prescinde do estratégico copo de leite para  amenizar a queimação. Eu sabia que a refeição preparada com esmero é um dos maiores confortos oferecidos a quem chega e aprendo que a refeição-incentivo é a que prove de boa energia e exclui qualquer tristeza. O segredo está no prazer sentido, quer no preparo da refeição, quer em seu consumo, e este é o novo aprendizado, ou melhor, o aperfeiçoamento de descobertas recentes, a excelência da entrega feminina.

Há amor abundante no olhar verdadeiramente carinhoso.

Dizem, eu acredito e pratico, que para bem-viver é necessária memória curta, mas, como a vida tem humor próprio, criativo e nos testa com certa frequência, também ando em fase de inventar novas qualificações e classificações, compartimentos internos para melhor organizar novelos emaranhados,  imagens, sentimentos, odores, lembranças e tudo mais passado que (feliz ou infelizmente) forma a nossa história. É fácil - corrijo - para mim sempre foi fácil desconsiderar motivos e certezas e permitir a reaproximação de desafetos que se apresentaram hostis em determinado momento, pelo puro esquecimento que sempre me abençoou. Mas, e este mas é danado, eis o mais novo compartimento criado para o ruim excepcional, que de tão ruim não pode ser esquecido, unicamente, para nunca mais acontecer. É aquela tristeza-exceção que já perdeu seu amargor e serve apenas de constante alerta, luzes piscantes a lembrar: Cuidado! Esse mal é pungente e pode até matar de desgosto, pode trazer doença ruim! É um mal tamanho que às vezes atravessa a vida da gente, não retorna nem reverbera, e serve de lição. Apenas.

Crer é uma das mais complexas e completas ações. Não perder a crença pode demandar esforço imenso e continuo.

Às mulheres é reservada a condição de parir o mundo e tudo que nele se encontra. Sublime condição esta, plena de possibilidades. Sem dúvida requer desprendimento e bom coração, por sinal, este é requisito fundamental para todos, o bom coração.

É uma pena que subestimemos a suavidade.  

Infelizmente todos os dias vejo cães agressivos que acompanham pessoas sem a menor vocação para criar animais de estimação. Da mesma forma que o trânsito hostil é instrumento para que o frustrado exerça suas mais intimas limitações, os cães agressivos são os reflexos das limitações de seus donos. Criamos cães agressivos, criamos filhos agressivos, criamos um mundo agressivo. Em especial esta minha geração é a que mais falhou em sua responsabilidade de ofertar à vida filhos com o emocional saudável, solidários e justos. Cada vez mais enfatizo a nossa responsabilidade moral diante dos atos de nossas crias. Se menores, somos integralmente responsáveis, e se maiores nossos filhos, nossa responsabilidade moral jamais cessa. Nos perdemos entre a melhor orientação e o exemplo por nós apresentado. Relegamos nossa missão mais importante. 

Tenho conversado com amigas e conhecidas e aprendo que a maternidade não é obrigatória nem realizadora, por mais que nossa sociedade exija com fervor sua ocorrência. Tenho amigas que optaram por não ter filhos e se sentem bem com essa alternativa. No entanto, reconhecem que são exceção, assim como reconhecem a pressão externa, velada ou não. Afinal, temos por certa a realização que a prole propicia, bem como banalizamos as demandas do organismo quando se aproxima o fim da capacidade de procriação. Há pouco reencontrei amiga de muitos anos que, meio sem jeito, começou a conversa com o “fiz uma produção independente” - ora, querida, você é mãe e isso é o mais importante, muito legal, portanto, dependente ou independente são qualificações desnecessárias. Outra amiga quebrou o tabu, o acordo assumido com o namorado de muitos anos, próximo da menopausa engravidou e hoje dedica sua vida à cria. Às duas contraponho a bem sucedida experiência de poucas amigas que podiam ter filhos, mas exerceram outras opções. 
O único anseio que parece presente na vida das mulheres é o casamento. Todas, sem exceção, querem casar ao menos uma vez, para sentir a sensação de ser a escolhida de alguém. Somos super executivas, astronautas, médicas cirurgiãs, mas o casamento ainda faz parte do imaginário realizador não importam todas as demais conquistas. Por isso e ainda, principalmente com o passar do tempo, aceitamos cônjuges dependentes químicos, sem caráter, abusivos e desprovidos de bom coração. 
Aristófanes nos entendeu cerrados ao meio e desesperados para encontrar alguém que nos complete. Assim o desejo seria o cordão umbilical cortado, que está sempre conosco, sangrando e ansiando a união sem falhas. A questão estaria na completude exigida do outro. Entendo que essa exigência representa carga insana que jamais deveria ser transferida. Não é o marido (ou a mulher) que nos completa - essa, é função nossa. Com o tempo nos esquecemos da nossa própria inteireza. 

O perdão é o único antídoto realista que o amor oferece para ultrapassar as decepções inevitáveis da intimidade. 

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