sábado, 25 de fevereiro de 2012

Espero que me digam se sou feliz, real, ou simplesmente uma espuma de cinza em muitas mãos

É um exercício imaginar o que você faria se descobrisse que seu bilhete foi premiado no sorteio de algum jogo oficial qualquer e você tem 70 milhões de reais à imediata disposição. Qual seria a sua primeira atitude? Qual seria o seu comportamento? O que eu faria? Bom, por segurança e até que eu providenciasse sistemas protecionais pertinentes e não ostensivos, eu mandaria para bem longe as pessoas que me são mais caras e após receber o prêmio eu também me afastaria por um curto período para melhor pensar. 
Eu teria em mente que qualquer valor tem sua capacidade, logo, uma parte desse dinheiro seria utilizado para gerar mais dinheiro, porque diferente de muitos, eu não deixaria de produzir - a vida é meio vazia sem uma atividade séria e remunerada. Eu negociaria quaisquer pendências, as melhores aplicações e criaria uma associação (ou outra pessoa jurídica qualquer) para prover recursos (materiais, médicos, jurídicos, educacionais) aos mais necessitados e minha opção seria pelas crianças e pelos velhos. Eu não concebo a ideia de receber tanto sem nada retribuir. Seria inadmissível. Eu zelaria por essa associação e cooptaria profissionais éticos e honestos de diversos segmentos para, conjuntamente, realizar a boa diferença. Eu não daria vinda mansa aos meus, mas lhes proporcionaria os melhores meios para, através do trabalho, realizarem seus bons sonhos. Eu faria algumas surpresas, sem dúvida, porque a vida também requer regalos. Eu vigiaria a arrogância para que ela não se instalasse e não perderia a noção de quem realmente sou. Eu faria o esforço necessário para, em detrimento das facilidades, jamais perder a minha capacidade de sentir indignação. Isso tudo se eu ganhasse 70 milhões em algum sorteio oficial qualquer. 
Vocês repararam nos valores citados em filmes antigos? O super bandido demandava alguns milhares de dólares para não contaminar toda a água do planeta; a obra de arte almejada e exposta em um museu famoso valeria, no máximo, cinquenta mil dólares e esse montante garantiria o resto da vida mansa ao personagem ladrão; no filme “The Italian Job”, de Gary Gray, com Donald Sutherland, Mark Wahlberg, Edward Norton e Charlize Theron, aquele, com uma porção de mini Coopers em corrida urbana frenética, sobre o roubo em Veneza de 35 milhões de dólares em barras de ouro, valor que dividido garantiria a aposentadoria e a realização de todos os sonhos de sete malfeitores. Caramba! Em 2003, ano daquela produção, 35 milhões de dólares era muito dinheiro e poderia ser dividido por sete, ou mais, com sobra. Hoje, lemos, sabemos e ouvimos sobre rios de milhões de dólares, de reais, de euros, que insatisfazem, não sete, mas um único ladrão. 
Se por ventura eu aprimorasse o exercício inicialmente proposto e resolvesse vender o meu bilhete premiado, obviamente por um preço bem maior, para quem necessitasse legalizar dinheiro ilícito? Bom, de início eu teria alguma dificuldade para justificar a mudança de status social: Herança ganha? Casamento bem sucedido? Sorte nos negócios? Dinheiro achado e não reclamado não é roubado? A simplicidade costuma ser regra: Fulano ganha x, gasta y, tem patrimônio no valor de w. Se o patrimônio do Fulano ou de seus filhos profissionalmente malsucedidos, os Fulaninhos Júniores, de seus pais humildes, sr. e sra. Fulano de Fulano, irmãos, cunhados, primos e amantes, todos tão humildes quanto os pais, de repente, é inundado por um rio de dólares, reais ou euros, sem um bilhete premiado de algum jogo oficial que justifique tamanha felicidade, então, no mínimo, deveria garantir uma boa explicação.
Não é apenas a deterioração das principais bases de uma sociedade que o rio monetário caudaloso e corrupto garante. Ele também mina o comportamento de cada um de nós e nos torna suscetíveis ao desmando e ao erro. Assim, diariamente a manutenção de máquinas, edifícios, procedimentos também é corrompida. O empresário percebe mais lucro com a venda de produtos contaminados, o funcionário público recebe mais para virar o rosto ou fazer menos, o empregado sabota a máquina para fraudar o seguro e a seguradora não paga o tratamento de saúde devido e pertinente. Os valores aumentam cada vez mais e demandam exercícios imaginativos periódicos: O que você faria se descobrisse que seu bilhete foi premiado no sorteio de algum jogo oficial qualquer e você tem 700 milhões de reais à imediata disposição. Qual seria a sua primeira atitude? Qual seria o seu comportamento? 
     

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