A vitória de César Cielo Filho, numa das provas mais significativas dos jogos, os 50 m de nado livre, tornando-o o nadador mais veloz de um mundo que adora a rapidez e inscrevendo o Brasil de modo definitivo no panteão do esporte mundial, trouxe de volta – ao menos para os brasileiros que competem seminus – o “espírito Olímpico” que, com a crise entre a Rússia e a Geórgia e a nossa própria dura realidade social, nos levam para bem longe dos “ninhos de pássaro” e do “cubo d’água” (cujo teto, por sinal, tem recortes idênticos aos do casco de uma tartaruga). No fundo, toda disputa esportiva produzida com ênfase dramatiza positivamente o espírito capitalista da competição justa, na qual não vence quem nasceu aqui ou ali, pertence a certo partido, é branco ou carrega o “nome de família”, mas teve o melhor desempenho. As lágrimas do campeão comovem porque exprimem a sua humanidade. Cielo Filho foi o grande campeão, mostrou-se dono mais absoluto de uma técnica de corpo e maestro de uma habilidade, vontade e poder físicos incomparáveis, mas ele não esqueceu que a medalha conquistada pertencia também a uma rede de laços que trazia dentro do seu coração. Suas lágrimas, ao ouvir o hino nacional, foram a aliança que realizou com todos nós que nos transformamos em seus pais e irmãos, graças ao espírito das disputas tão transparentes quanto a piscina na qual foi vencedor. Por ele, valeu termos ido pra China.
Roberto da Matta
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