segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Colcha de retalhos

O desencanto que eu tenho com a política em grande parte é resultado dos onze anos que vivi em Brasília.
À época o meu conhecimento técnico me rendeu convite indeclinável para trabalhar no Distrito Federal e durante aquele período, criei e gerenciei diversas áreas de empresa privada e também fui professora de Direito Civil em faculdade local.
Lá cheguei em 1993 e presenciei a mudança de Brasília durante os governos seguintes. Lá também perdi uma parte do meu idealismo, abandonei algumas ideias, só não alterei meus valores por isso fiquei mais sensível, refratária até.
A única certeza que hoje eu tenho em relação à eleição é a não obrigatoriedade do voto. Eu não sou feliz por ser obrigada a votar se não reconheço nos candidatos existentes a capacidade e a competência para serem meus representantes. O voto é direito que deveria depender da vontade do seu titular para ser exercido.
Para evitar a dura descrença e alimentar a esperança em um Brasil melhor, principalmente para os netos que um dia eu terei, eu quero acreditar que no futuro surgirão políticos competentes, capazes, eficazes e honestos, plenamente conscientes do espírito público e desinteressados nas vantagens pessoais, que administrarão este país do jeito que ele merece. Acredito que um dia aprenderemos a votar e, principalmente, deixaremos de embasar nossas escolhas em escusas pouco ou nada valorosas.

No segundo turno mais uma vez serei obrigada a votar sem ter em quem votar. Descubro que não aprecio a permanência, nem o retorno. Dedico meu especial apreço ao novo (competente, capaz e eficaz novo) que algum dia surgirá.

No tempo que solteira morei com meus pais, na São Paulo onde nasci, eu era vizinha de um dos editores do jornal O Estado de São Paulo. A cultura daquele jornalista e seu empenho no seu constante desenvolvimento e aprimoramento eram invejáveis. Era prazeroso ler suas matérias e compartilhar uma pequena parte do seu vasto conhecimento. Infelizmente e na grande maioria, os jornalistas que hoje atuam são carentes de preparo e, principalmente, de boa formação cultural. Com isso perdemos todos nós com a carência que vivemos de boas matérias, que poderiam aprimorar nosso próprio conhecimento.
Deixo este retalho na colcha que ora costuro, porque uma boa parte da responsabilidade proveniente do cenário político deste país é devida à imprensa.

Ontem à noite, no facebook, uma cineasta conceituada publicou o vídeo do show do palhaço Tiririca. Meu filho tinha acabado de chegar e enquanto eu comentava com ele sobre a inacreditável quantidade de votos conquistados pelo candidato Tiririca, principalmente em São Paulo, acessei o vídeo e meu filho acompanhou a música. Ele conhecia a letra.
Infelizmente, eu não escolhi o artista Tiririca sequer para meu entretenimento. Pelo visto estou fora da realidade.

Volto ao filho: Outra das minhas tristezas nesta eleição foi a impossibilidade de conversar com meu filho sobre as minhas escolhas.
É ruim não reconhecer a condição, a vocação e a capacidade para a nossa efetiva representação. No último domingo fomos juntos, meu filho e eu, para votar e depois apreciamos gostoso almoço em um restaurante do bairro.

Eu não estudei sociologia, antropologia, tampouco psiquiatria. Acho que por isso eu sou incapaz de analisar o comportamento dos eleitores. Eu não sei o que significam mais de 10% de votos brancos e nulos na votação para governador do estado de São Paulo, assim como não sei, no mesmo estado, o que significam os percentuais 27,35% na escolha de senadores, 15,77% na escolha dos deputados federais e 16,12% de votos brancos e nulos na escolha dos deputados estaduais. Todos percentuais, a meu ver, bastante elevados.

Houve um tempo no qual o número do nosso telefone, nosso endereço e email eram protegidos. Atualmente, parece que esses dados se tornaram públicos e disponíveis a qualquer um. Eu não sei como alguns candidatos ao senado foram capazes de utilizar o meu telefone para mensagens gravadas a pedir o voto. O serviço de telefonia oferece essa possibilidade?

Adoraria ser convencida que estes meus pensamentos soltos estão errados.

Um comentário:

maria amelia disse...

Nunca estive em Brasília e também não tenho formação em sociologia ou ciências políticas, mas também me sinto impotente e menos esperançosa com o nosso futuro.
Quero desenvolvimento, aprimoramento, comprometimento e esperança para o amanhã.
Como podemos nos unir e lutar ?