quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sábios conceitos

"Quem amadureceu se governa pela razão e não é escravo dos desejos: só exercem aqueles lhe convém que estão de acordo com seus valores morais."
Flávio Gikovate

Gosto dos ensinamentos do psiquiatra Flávio Gikovate, principalmente, da coerência de suas ideias.
Por ocasião do lançamento do mais novo livro desse conceituado psiquiatra ("Sexo", MG editores), no último domingo, o Suplemento Feminino do jornal o Estado de São Paulo publicou a entrevista abaixo reproduzida:

"Em seu 30º livro, o psiquiatra Flávio Gikovate reafirma que a humanidade continua insistindo que sexo é uma manifestação de amor. Ele mostra como os pensamentos equivocados têm produzido consequências negativas, a exemplo dos casos de depressão. Aos leitores, propõe uma revisão dos conceitos e sugere que se pense com seriedade sobre sexualidade. Para isso, é preciso deixar o conservadorismo de lado.
Gikovate diz que o sexo é motivo de enormes preocupações. Seja em relação à competência sexual, ao desejo de corresponder a padrões de beleza e até à preocupação em relação ao tamanho do pênis e ao orgasmo feminino. Discorre sobre a vaidade, que classifica como prazer erótico de se exibir e despertar algum sinal de admiração, e sobre as diferenças entre desejo e excitação.

Ainda não se aprendeu a separar sexo de amor?
Não. É preciso entender que fazemos sexo e sentimos amor. Mas a humanidade continua insistindo que o sexo é uma manifestação do amor.

O caminho para a evolução sexual parece ser longo, mas quais foram as mudanças mais marcantes?
Começou com a chegada da pílula, a revolução sexual, quando acompanhei o aumento brutal do exibicionismo feminino, quando elas diminuíram o tamanho do maiô e, consequentemente, acenderam a disputa entre os homens. O avanço mesmo foi fazer sexo oral e sair do "papai e mamãe". Mas a preocupação do homem continua sendo o tamanho do pênis e a da mulher, a chegada ao orgasmo.

O senhor diz que a revolução sexual é um tanto medíocre, por quê?
Porque foi um movimento que reforçou o que as mulheres queriam combater, enfraqueceu as relações de amizade e aumentou o consumismo. Confundiram o que é liberar sexo com o que é amor.

Como se livrar das ideias pré-concebidas sobre sexo?
Hoje voltaram a usar o termo "servidão voluntária". As pessoas estão acostumadas a simplesmente obedecer. Nunca tiveram a chance de serem livres, mas continuam obedecendo. O legal mesmo é desobedecer para descobrir coisas novas. É aí que está a liberdade.

A valorização do sexo casual é sinal de imaturidade emocional?
Sim, pois ela só privilegia o cafajeste, que é imaturo, mentiroso, egoísta, capaz de envolver sem qualquer culpa ou preocupação com o sofrimento que pode causar. Mas se dá bem porque fala tudo o que a mulher quer ouvir. Desse ponto de vista, os homens mais maduros, mais preocupados em não magoar e mais competentes para amar, sentem profunda inveja dos cafajestes. Devido à delicadeza e cuidado em não serem invasivos, são vistos como menos sensuais.

Qual a relação entre sexualidade e agressividade?
Os primitivos mais agressivos foram os que fecundaram mais. Do ponto de vista biológico, me parece claro que existe forte associação entre a sexualidade, especialmente a masculina, e a agressividade. O que se justifica do ponto de vista da psicologia evolutiva, pois os mais fortes e mais violentos tiveram maiores chances de se reproduzirem numa selva primitiva, onde havia escassez de mulheres.

O livro também fala sobre o individualismo. Quais as consequências que ele traz?
Começou com o rock, quando os casais se desgrudaram para dançarem separados. E o individualista cresceu graças ao avanço tecnológico. As pessoas sozinhas, antes vistas com preconceito (como as "solteironas"), são invejadas por serem independentes, o que virou um problema para o casamento, pois quem vive sozinho parece ter menos problema. Mas tudo isso acabou determinando uma crescente competitividade entre homem e mulher.

Por que a prática sexual hoje é definida pela indústria pornô?
Isso é fato. As mulheres detestavam sexo anal, hoje gostam por causa dos filmes pornôs. Ao mesmo tempo, essa indústria trouxe aflições antigas, como o tamanho do pênis. É um produto que estimula a fantasia.

Como enxerga o futuro?
O sexo casual vai ser substituído pelo sexo virtual, que é mais próximo da masturbação. Apesar da libertinagem parecer uma coisa boa, não funciona, pois as pessoas se apaixonam.

Cristiana Vieira"

Acompanhe o twitter do psiquiatra Flávio Gikovate.

Imagem reprodução.

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