Eu tinha pouca, pouquíssima paciência para jogar xadrez. Aprendi o movimento de cada peça, não aprendi como tirar o melhor resultado desses movimentos e distraída, precipitada, em pouco tempo eu deixava de lado o tabuleiro e suas personagens talhadas em madeira, saídas de castelos medievais: Rainhas, reis, bispos, peões. Xadrez não é jogo para pessoas agitadas. Não é.
Na primeira demonstração de interesse do meu filho, ainda garoto, pelo tabuleiro do avô, eu lhe dei de presente o jogo do Kasparov, uma engenhoca que guardava na memória cada lance do mestre enxadrista e permitia o jogo solitário contra a máquina. À época, eu quis que a minha limitação no xadrez não fosse compartilhada com o meu filho.
Há alguns dias, numa tarde preguiçosa e chuvosa, resolvi experimentar o xadrez instalado no computador e encontrei novo encanto nesse jogo por mim antes desprezado. Descobri sobre estratégias, armadilhas e malícia, alguns dos diversos raciocínios demandados no xadrez. Descobri que às vezes sou ingênua e continuo distraída. Imitei os movimentos da máquina, ousei e ataquei com extrema rapidez (movimentos apelidados kamikazes), rodei e rodei mais um pouquinho até chegar ao rei adversário.
Neste reinício dediquei especial predileção pela rainha, a peça mais competente, capaz de correr o tabuleiro em todas as direções; praticamente entreguei meus peões até entender que são perfeitos em suas movimentações na proteção de outras peças; aprimorei a atitude intrépida dos cavalos e pus as torres para correr. Meu rei é solidário e acompanha seus súditos à frente na batalha - eu não admitiria um rei covarde. Como sou iniciante assumida, às vezes desfaço a minha movimentação desprovida de qualquer inteligência. É o meu jeito de contrapor a malandragem do computador, que em desvantagem empata e impede movimentos de jogo que na certa seria ganho por mim.
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