quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Rapidelas

Não foi a responsabilidade excessiva solitária prolongada e contínua que quase acabou comigo. Não foi o meu onze de setembro pessoal, o câncer, que provou o quanto não sou inexpugnável e levou consigo órgão vital, o responsável pelo meu quase fim. Não foram alguns poucos  temores, tampouco as descobertas emocionais que quase limitaram minha existência. A grande vilã foi a depressão, enfermidade incapacitante que deixa a nossa alma triste e sem cor, desequilibra a nossa química, quase altera a nossa essência. A depressão foi a pior inimiga, a oponente mais forte e capaz de ofertar dura batalha, a que me virou do avesso e testou a minha condição de sobreviver.

Eu fico realmente impressionada com a grave ignorância, base do preconceito e de idéias totalmente equivocadas ainda existentes. Foi-se o tempo do clínico geral competente e dedicado, capaz de curar todos os males. Atualmente, lidamos com médicos especialistas e necessitamos ter sorte para encontrarmos profissionais da saúde realmente competentes. Às vezes na cura prevalece a pura tentativa, erro e acerto.

Entre inibidores seletivos, recaptadores e outras coisas aparentemente esquisitas, surgem nomes diferentes que nos lembram as aulas de química: Norepinefrina, dopamina, venlafaxina, niacina, triptofano, serotonina, melatonina e outras tantas, algumas existentes em determinados alimentos, que fazem um bem danado. A substância certa, na dose certa, faz milagres.

Antes de definir seu futuro companheiro, confirme também a boa saúde do hipotálamo e da hipófise do rapaz. Lembrem-se: Boa dosagem de oxitocina e equilibradíssima dosagem de cortisol. Mais uma para rir ou não.

Eu não aprecio alimentos apimentados, mas aprendo o benefício que a pimenta traz para nossa saúde. Aliás, já repararam como nosso organismo pede (nos induz) a ingerir o que realmente necessitamos? Assim, aos aficcionados por pimentas, segundo a escala de scoville, quanto mais capsaicina melhor.

Remédio para todos os males


Eu confesso que não resisto e com a vontade vinda do ânimo desses cozinheiros famosos, preparo gostosuras e descubro o prazer da procura e do uso de ingredientes frescos: verduras, legumes, carnes, aves, peixes e frutas compradas poucas horas antes do preparo da folia gastronômica.
Podem pensar que isso é primário, prosaico, banal, mas para mim, que nunca antes tive tempo e espaço para esparramar meu recém descoberto talento culinário é uma adorável realização não pretendida, sequer imaginada.
Vejo Nigela, Kylie, Jamie, Garvin, Chuck e aprendo a essência do alimento confortável que encanta os sentidos e, o principal, retomo o adorável resultado dos alimentos preparados pela minha mãe: Leves, deliciosamente saborosos, nutritivos e sobretudo saudáveis. Fico encantada com o charme do Bourdain e, às vezes, assisto ao aparentemente colérico Ramsay e suas assustadoras descobertas nas câmaras frigoríficas de restaurantes pessimamente geridos, à beira da falência e confirmo minha aversão pela cólera (desenvolvi antipatia contra as pessoas coléricas), mas sem deixar de apreciar sua competência no preparo de receitas no programa da baixinha Rachel Ray. Quer descobrir um bom cozinheiro? Um cozinheiro profissional? Observe seu jeito de cortar e misturar os ingredientes, clara limitação de Nigela, que consola minha inaptidão com os cortes superfinos de legumes e vegetais. Kylie também é adepta do “comfort food” ao ensinar a alquimia chinesa, afinal, cozinhar nada mais é do que a boa e velha alquimia, o remédio contra todos os males.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ton Koopman, Bach - Fugue in G minor BWV 578

Sábios conceitos

"Quem amadureceu se governa pela razão e não é escravo dos desejos: só exercem aqueles lhe convém que estão de acordo com seus valores morais."
Flávio Gikovate

Gosto dos ensinamentos do psiquiatra Flávio Gikovate, principalmente, da coerência de suas ideias.
Por ocasião do lançamento do mais novo livro desse conceituado psiquiatra ("Sexo", MG editores), no último domingo, o Suplemento Feminino do jornal o Estado de São Paulo publicou a entrevista abaixo reproduzida:

"Em seu 30º livro, o psiquiatra Flávio Gikovate reafirma que a humanidade continua insistindo que sexo é uma manifestação de amor. Ele mostra como os pensamentos equivocados têm produzido consequências negativas, a exemplo dos casos de depressão. Aos leitores, propõe uma revisão dos conceitos e sugere que se pense com seriedade sobre sexualidade. Para isso, é preciso deixar o conservadorismo de lado.
Gikovate diz que o sexo é motivo de enormes preocupações. Seja em relação à competência sexual, ao desejo de corresponder a padrões de beleza e até à preocupação em relação ao tamanho do pênis e ao orgasmo feminino. Discorre sobre a vaidade, que classifica como prazer erótico de se exibir e despertar algum sinal de admiração, e sobre as diferenças entre desejo e excitação.

Ainda não se aprendeu a separar sexo de amor?
Não. É preciso entender que fazemos sexo e sentimos amor. Mas a humanidade continua insistindo que o sexo é uma manifestação do amor.

O caminho para a evolução sexual parece ser longo, mas quais foram as mudanças mais marcantes?
Começou com a chegada da pílula, a revolução sexual, quando acompanhei o aumento brutal do exibicionismo feminino, quando elas diminuíram o tamanho do maiô e, consequentemente, acenderam a disputa entre os homens. O avanço mesmo foi fazer sexo oral e sair do "papai e mamãe". Mas a preocupação do homem continua sendo o tamanho do pênis e a da mulher, a chegada ao orgasmo.

O senhor diz que a revolução sexual é um tanto medíocre, por quê?
Porque foi um movimento que reforçou o que as mulheres queriam combater, enfraqueceu as relações de amizade e aumentou o consumismo. Confundiram o que é liberar sexo com o que é amor.

Como se livrar das ideias pré-concebidas sobre sexo?
Hoje voltaram a usar o termo "servidão voluntária". As pessoas estão acostumadas a simplesmente obedecer. Nunca tiveram a chance de serem livres, mas continuam obedecendo. O legal mesmo é desobedecer para descobrir coisas novas. É aí que está a liberdade.

A valorização do sexo casual é sinal de imaturidade emocional?
Sim, pois ela só privilegia o cafajeste, que é imaturo, mentiroso, egoísta, capaz de envolver sem qualquer culpa ou preocupação com o sofrimento que pode causar. Mas se dá bem porque fala tudo o que a mulher quer ouvir. Desse ponto de vista, os homens mais maduros, mais preocupados em não magoar e mais competentes para amar, sentem profunda inveja dos cafajestes. Devido à delicadeza e cuidado em não serem invasivos, são vistos como menos sensuais.

Qual a relação entre sexualidade e agressividade?
Os primitivos mais agressivos foram os que fecundaram mais. Do ponto de vista biológico, me parece claro que existe forte associação entre a sexualidade, especialmente a masculina, e a agressividade. O que se justifica do ponto de vista da psicologia evolutiva, pois os mais fortes e mais violentos tiveram maiores chances de se reproduzirem numa selva primitiva, onde havia escassez de mulheres.

O livro também fala sobre o individualismo. Quais as consequências que ele traz?
Começou com o rock, quando os casais se desgrudaram para dançarem separados. E o individualista cresceu graças ao avanço tecnológico. As pessoas sozinhas, antes vistas com preconceito (como as "solteironas"), são invejadas por serem independentes, o que virou um problema para o casamento, pois quem vive sozinho parece ter menos problema. Mas tudo isso acabou determinando uma crescente competitividade entre homem e mulher.

Por que a prática sexual hoje é definida pela indústria pornô?
Isso é fato. As mulheres detestavam sexo anal, hoje gostam por causa dos filmes pornôs. Ao mesmo tempo, essa indústria trouxe aflições antigas, como o tamanho do pênis. É um produto que estimula a fantasia.

Como enxerga o futuro?
O sexo casual vai ser substituído pelo sexo virtual, que é mais próximo da masturbação. Apesar da libertinagem parecer uma coisa boa, não funciona, pois as pessoas se apaixonam.

Cristiana Vieira"

Acompanhe o twitter do psiquiatra Flávio Gikovate.

Imagem reprodução.

Descobertas

Eu tinha pouca, pouquíssima paciência para jogar xadrez. Aprendi o movimento de cada peça, não aprendi como tirar o melhor resultado desses movimentos e distraída, precipitada, em pouco tempo eu deixava de lado o tabuleiro e suas personagens talhadas em madeira, saídas de castelos medievais: Rainhas, reis, bispos, peões. Xadrez não é jogo para pessoas agitadas. Não é.
Na primeira demonstração de interesse do meu filho, ainda garoto, pelo tabuleiro do avô, eu lhe dei de presente o jogo do Kasparov, uma engenhoca que guardava na memória cada lance do mestre enxadrista e permitia o jogo solitário contra a máquina. À época, eu quis que a minha limitação no xadrez não fosse compartilhada com o meu filho.
Há alguns dias, numa tarde preguiçosa e chuvosa, resolvi experimentar o xadrez instalado no computador e encontrei novo encanto nesse jogo por mim antes desprezado. Descobri sobre estratégias, armadilhas e malícia, alguns dos diversos raciocínios demandados no xadrez. Descobri que às vezes sou ingênua e continuo distraída. Imitei os movimentos da máquina, ousei e ataquei com extrema rapidez (movimentos apelidados kamikazes), rodei e rodei mais um pouquinho até chegar ao rei adversário.
Neste reinício dediquei especial predileção pela rainha, a peça mais competente, capaz de correr o tabuleiro em todas as direções; praticamente entreguei meus peões até entender que são perfeitos em suas movimentações na proteção de outras peças; aprimorei a atitude intrépida dos cavalos e pus as torres para correr. Meu rei é solidário e acompanha seus súditos à frente na batalha - eu não admitiria um rei covarde. Como sou iniciante assumida, às vezes desfaço a minha movimentação desprovida de qualquer inteligência. É o meu jeito de contrapor a malandragem do computador, que em desvantagem empata e impede movimentos de jogo que na certa seria ganho por mim. 

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Primavera

Sem qualquer exagero, eu adoro a primavera.

A little madness in the Spring

Emily Dickinson

sábado, 11 de setembro de 2010

Cerrado

Dia do cerrado, da vegetação valente, às vezes retorcida, aparentemente seca, sobretudo vitoriosa.

(o cerrado ocupa cerca de 24% do território nacional)