sábado, 28 de junho de 2008

Sábado de paz

Sábado tão gostoso e típico de outono, com o sol brilhante e o clima ameno.
Encontrei pavios para minha lamparina, novas mudas de plantas, um livro que há tempos queria e ganhei uma agenda. Tudo isso a pé, na companhia de boa música, que me faz esquecer a vida e mexer as pernas com ritmo enquanto espero os sinais abrirem.
Gosto muito de andar à vontade, curtir mais os lugares e descobrir coisas novas, jamais imaginadas quando uso o carro. Enquanto caminho faço autoterapia e deixo em cada passo uma parte do que pode entristecer ou incomodar.
No almoço quis manter o mesmo clima e não abri mão da paz que senti durante a manhã. Depois, apesar do soninho gostoso que vem quando conseguimos relaxar de verdade, ainda fui ao supermercado para comprar algumas gostosuras especiais para o almoço que quero preparar amanhã.
Estava no corredor dos sabonetes, desodorantes e lencinhos de papel, a ler o rótulo do mais novo creme para enxágüe (eu não gosto de usar muita coisa no meu cabelo, salvo um bom xampu) quando passou uma mulher com um rostinho conhecido
- Você não é a Ana?
Pois é, a Ana, que está ao meu lado na foto oficial da missa de formatura na frente da Catedral da Sé e que aparece nas minhas imagens da colação de grau no Anhembi.
Quer dizer que tiramos fotos juntas na porta da igreja?
Incrível como temos a capacidade de desconsiderarmos o tempo – lá se vão vinte e cinco anos! - e retomarmos o mesmo papo, com a única diferença que hoje, as crianças não são mais tão crianças e estão mais velhas do que nos éramos quando concluímos o curso de Direito.
Ana é mais séria do que eu e parece bem mais tímida. Mas ela era da turma do fundo e eu da turma da frente, dos que não ficavam de dependência. Lembro bem que fiquei encantada porque ela tinha uma escola de balé e ensinava crianças especiais.
Foi nisso também que pensei enquanto conversávamos: Gostar tanto do curso fez com que aqueles cinco anos fluíssem rapidamente. Ainda mais com o fim da minha rebeldia contra a física, a química e a matemática, abandonadas no segundo grau e no fundão bagunceiro.
- Você se lembra da sisudez que nos impuseram na formatura e da anarquista bomba de confetes que soltaram no palco?
- Na minha primeira audiência o juiz foi o professor Oscarlino.
- Ah, o professor Oscarlino. Saudade.
- Lembra do Edu, do Tião e da Vera? A Vera casou com o Zé que virou deputado do PT.
Educado o rapaz do supermercado pediu para que movêssemos nossos carinhos para que ele pudesse limpar em baixo das gôndolas dos produtos de higiene, de onde saíram muitas cebolas. Risadas. Aquelas cebolas rolaram do corredor ao lado.
Somos filhas únicas, mães, advogadas, mulheres e vizinhas que fazem compras no supermercado do bairro. Esta vida é muito gostosa. E quem precisa de mais?


Imagem de Elizabeth Peyton

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