A pausa foi necessária. Desligar-me da internet, das informações sem fim. De repente percebi quantas horas eram gastas por dia na atualização de sites, nas inúmeras leituras, nas revistas, blogs, jornais, emails, na assimilação das notícias mundiais, novidades da ciência, tratamentos médicos. Confirmar a máxima do eu nada sei e quanto mais aprendo mais tenho que aprender aliado à angústia do conhecimento infinito ao alcance das pontas dos dedos e da conexão rápida. Horas sentada, encostada em almofadas, esparramada no colchão, na poltrona, no sofá. O corpo a demandar atividade enquanto a mente superlotada pedia arrego. A simplicidade e sabedoria da pergunta básica: Para quê?
No primeiro dia de abstinência internética, acompanhada por panos de pó, arrumei meus livros, organizei-os, descobri exemplares interessantes não lidos. No segundo dia, alcancei ilhas isoladas pelo respeito aos bens que não eram meus, mas por herança integraram-se ao meu mundo: fotografias, cartas, papéis, exames, muitas coisas guardadas em malas de couro imensas e antigas, com fechos simples – como viajavam pelo mundo com malas sem cadeados, sem segredos, em navios, portos, aviões, aeroportos? Sentada no chão, o cão deitado ao lado, li, admirei, rasguei, guardei, organizei, separei o que seria doado do descarte. No final de cada dia, o corpo cansado, senti prazer com os diversos resultados. Finalmente, aprendi a parar, a considerar horário, a respeitar-me mais. Foram anos seguidos de desconsideração do tempo informado para o final do expediente e de horas em excesso dedicadas para dar conta das demandas abusivas. Não mais. Chegada a hora previamente estipulada, aprendi a parar para iniciar o relaxamento diário. Aprendi a dedicar mais tempo aos afazeres antes corridos, a curtir todos os procedimentos e entregar-me com qualidade.
Tornei-me mais eficaz no manuseio de minha agenda e, tempo de copa do mundo, a encontrar pausas para curtir os jogos de meu interesse – céus! descobri que realmente gosto de futebol e me encanto com as boas partidas. Torci, soltei gritos de incentivo, fiquei chateada com alguns jogadores e juízes, dei pulos e após cada reação tão espontânea eu ria da minha própria atitude: Aprendi a me soltar mais.
Observei alguns móveis, pesquisei e com o cão caminhei até a marcenaria escolhida para os reparos tão necessários. Com essa minha nova brincadeira a primeira televisão colorida, acondicionada pelo fabricante em belo armário de madeira, foi retirada e o novo armário foi integrado à sala, bem embaixo do portrait pendurado na parede. Foi tempo de consertos.
Confesso que gostei muito da minha nova conquista: A capacidade de ficar semanas seguidas sem ligar o computador.
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