domingo, 28 de outubro de 2007

Suniti Namjoshi

"The dreamer absconds with his dream,
props his stone bride beside a stream,

where he washes, bathes, and gathers daisies.
These she refuses. He cannot please.
He runs, scampers, leaps and weeps,
He recites his verses; she keeps
her pure silence, her chaste repose. “What
do you want ?” he screams. “That
which you will not grant: to be, not seem
to be, to be the dreamer, not the dream.”

* * *

Altitudes

“And then, of course,”
she was saying,
“we have grown so great
that now we dream
only of the possible.”

* * *

Grass Blade

As the first blade bends,
Grass Blade murmurs,
"I bend, but do not break."
Foot
keeps coming down.
Passionate Grass Blade
mounts a campaign:
Grass blades henceforth
to be made of glass.
Feet henceforth
to travel shoeless.
People walk away —
Why get hurt?
Oak Tree observes,
"Feet are not relevant."

* * *

"Saying that this was what it felt like to put
the right foot forward, and then the left, saying
that this was the taste of morning porridge,
that of milk, and this other of a niggling
but persistent pain, saying —
that, I suppose, was what was distinctive —
being unable to keep my mouth shut,
my mind from working. But a poet lives
like any other creature, talks perhaps
more than is normal, her doom no brighter,
nor her death less dismal than any other."

sábado, 27 de outubro de 2007

Olha a manga docinha... Quem vai querer

Chamamento típico das feiras livres paulistanas, a alegre oferta de suculenta manga aden com direito a comer um pedaço recém cortado pelo solícito vendedor, não aconteceu ao lado da tentadora barraca dos deliciosos e imperdíveis pastéis da dona Maria, que todas as sextas feiras insistem em atentar contra os chatos índices de colesterol e triglicérides, mas em plena loja de conhecida rede de supermercados desta cidade, feita por simpático empregado vestido de branco, na cabeça toquinha da mesma cor, mistura de papel com suposto tecido.

O prazer de preparar o alimento é antecedido pela escolha dos corretos ingredientes, muitos deles encontrados em supermercados. Em casa temos acordo tácito sobre o tema: A visita as gôndolas de alimentos é minha. A folia também. Escondo dentro da fronha do travesseiro pacote de biscoitos importados especiais; deixo outras gostosuras na parte de trás das prateleiras do armário, para cobrir de mimos e resgatar o ânimo nos dias estressantes; preparo surpresas guardadas na geladeira e agito o cão com os petiscos fedorentos que ele tanto gosta.

Paciência. Fazer compras em supermercado demanda imensa paciência, constantemente desafiada pela lentidão de alguns consumidores, pelo espaçoso e inconveniente comportamento de alguns demonstradores das inúmeras marcas de produtos expostas e pelas conversas mantidas no meio dos corredores.

Quantos obstáculos você transpôs durante suas compras desta semana? Cinco.
As duas senhoras que trocavam receita de bolo de cenoura e impediam a passagem no corredor dos produtos de higiene; a responsável pela seção de verduras e vegetais que resolveu arrumar as bandejas de tomates, abobrinhas, aspargos e vagens, no exato momento que eu procurava tomates, abobrinhas, aspargos e vagens; o moço com uniforme da fábrica de óleo de milho e girassol que esparramou as caixas desses produtos pelo caminho; a sub-sub-gerente responsável pela área de vinhos que por nada, mas por nada mesmo, saiu de frente da parte reservada aos produtos chilenos e o moço que guardava sorvetes no freezer. Ta, esse, eu perdôo.

Falta organização e planejamento? Consideração? Especial atenção para as pessoas de idade que não alcançam certos produtos colocados lá, bem no alto? Qualidade? Preocupação com a segurança de clientes e empregados?
De que adianta cartão especial, sorteio de viagem, cafezinho em garrafa térmica se o principal é prejudicado? Eis o motivo do acordo tácito: Poupo meu filho dessa periódica brincadeira.

Are you ?

"Are you the new person drawn toward me?
To begin with, take warning - I am surely far different from what you suppose;
Do you suppose you will find in me your ideal?
Do you think it so easy to have me become your lover?
Do you think the friendship of me would be unalloy'd satisfaction?
Do you think I am trusty and faithful?
Do you see no further than this façade - this smooth and tolerant manner of me?
Do you suppose yourself advancing on real ground toward a real heroicman?
Have you no thought, o dreamer, that it may be all maya, illusion?"

Walt Whitman

Jamiroquai - Seven Days in Sunny June (live)

Blogs, flogs, flickrs, conversa de doido

Este é o quarto blog. Os dois iniciais foram criados para complementar a folia das páginas no Flickr, que até agora comportam seiscentas fotos. O terceiro blog foi mantido em parceria com amiga, em ágil e interessante brincadeira, com temas bem variados e textos instantâneos paridos por duas mentes inquietas.

Parei com tudo em novembro do ano passado. Desde então, sem mais fotos, textos, só o suave e silencioso recolhimento para recuperar o fôlego, buscar energia no Divino, arrumar as idéias, exorcizar demônios, curar mazelas e tudo mais que ia por dentro. A insubordinação calada diante do insuportável.
O crescer por dentro.

As fotos e os duzentos textos ficaram órfãos pelo tempo certo, intuído e necessário para preservar dois sentimentos fundamentais: Amor e respeito.

Exposição? Em absoluto! Todas as imagens foram escolhidas com carinhoso cuidado, para que não ocorresse qualquer exibição desnecessária, provocação sem fundamento e a vileza, característica dos que não se preocupam com o que fica nessa evolução documental ofertada na web. O mesmo comportamento foi mantido nos textos, alguns deles arrancados em momentos notadamente adversos, que não foram expostos, mas apenas compartilhados com duas, e somente duas pessoas, em extrema confiança.

Por que mesmo criei o primeiro Flickr ? Quis homenagear alguém que compartilha belas fotos, mantinha dedicado diálogo amistoso e sofreu grave enfermidade. As duzentas fotos foram organizadas em dois dias e os poemas que servem de legenda encontrados em poucas horas. A página foi publicada no dia do aniversário dessa gentil pessoa. Foi meu presente.

Outro dia li que através do blog se mantém solitário diálogo. Monólogo. Terapia? Catarse? Sim, querida amiga, a mesma catarse que você quis provocar nas alamedas da Fundação Oscar Americano, ao vir do Rio para São Paulo, no primeiro feriado marcante em minha terra após onze anos de centro-oeste. Ah, mana, naquele momento a purificação seria precoce. Não sabíamos o que estava por vir. Intuíamos?

Lembro o saber: Sócrates dizia-se parteiro de idéias. O grande mestre filósofo acreditava que nada ensinava, apenas trazia para fora o conhecimento que todos guardavam dentro de si. Guardamos dentro de nós.
Ultimamente penso de forma recorrente em contadoras de histórias.
Sábias mulheres.

Acrobacias

"sentados em Trafalgar Square
no intervalo de amigos
como tempo entre as mãos
treinávamos o nosso inglês
num inquérito de revista
com Francis Bacon na capa
que perguntava :
qual dos membros
- superiores ou inferiores -
preferíamos perder
(esta ablação em língua estrangeira
tornava-se indolor, quase anestesiada)
respondeste: os braços
as pernas conservá-las-ias
como a liberdade de poder andar
respondi: as pernas
não queria ver-me
impedida de abraçar.
Assim juntando as nossas
perdas eu abraço-me a ti
e peço-te anda, mostra-me o mundo
e quando nos cansarmos
abraçar-me-ás, então, com as pernas
e eu
andarei com os braços"

Ana Paula Inácio

Adília Lopes

"1
Penélope
é uma aranha
que faz
uma teia
a teia é a Odisseia
de Penélope

2
Penélope está
sempre
sentada

3
Ulisses é abstracto
Penélope é concreta
a teia é abstracta
e concreta

4
Penélope casa-se
com Homero
Ulisses fica a ver
navios"

* * *

"Nunca choraremos bastante
termos querido ser belas
à viva força
eu quis ser bela
e julguei que para ser bela
bastava usar canudos
pedi para me fazerem canudos
com um ferro de frisar e papelotes
puxaram-me muito pelos cabelos
eu gritei
disseram-me para ser bela
é preciso sofrer
depois o cabelo queimou-se
não voltou a crescer
tive de passar a andar com uma peruca
para ser bela é preciso sofrer
mas sofrer não nos faz forçosamente belas
um sofrimento não implica como consequência
uma recompensa
uma dor de dentes pode comover a nossa mãe
que para nos consolar sem saber de quê
nos dá um rebuçado
mas o rebuçado ainda nos faz doer mais os dentes
a consequência de um sofrimento
pode ser outro sofrimento
a causa é posterior ao efeito
o motivo do sofrimento é uma das consequências
do sofrimento
os papelotes são uma consequência da peruca"

* * *

"Não gosto tanto
de livros
como Mallarmé
parece que gostava
eu não sou um livro
e quando me dizem
gosto muito dos seus livros
gostava de poder dizer
como o poeta Cesariny
olha
eu gostava
é que tu gostasses de mim
os livros não são feitos
de carne e osso
e quando tenho
vontade de chorar
abrir um livro
não me chega
preciso de um abraço
mas graças a Deus
o mundo não é um livro
e o acaso não existe
no entanto gosto muito
de livros
e acredito na Ressurreição
dos livros
e acredito que no Céu
haja bibliotecas
e se possa ler e escrever"

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Canto Diurno

"No silêncio bebe a tua taça
e é dor o amor enquanto espera,
imagina o desejo de repente
e lentamente olha o olhar do Outro.
Conhecer é amar, disse o divino
Platão ou outro filósofo antigo.
Porém como traçar na sombra
da persiana de luz o esboço
do teu rosto escasso ausente,
se no diurno amor a memória
o faz mais esquecer-se ?

Quando março me dá a nova flor
que abre sem palavras a corola,
eu comparo-a com o amor que eclode
na pupila do olhar em luz e sombra.
Todo ventre é bendito, tanto
mais o da primavera do cio
de aves e flores. Também o desejo
imaginou a língua sem palavras,
e que é a som do Canto e dos poemas.

Este diurno amor está em corpo,
e num e noutro, como o pão partido
no banquete dos convivas silenciosos
que é o de cada um consigo e os outros.
Nenhuma coisa ausente o partilha,
quando as estações do tempo passam
por nós depois da primavera e param."

Fiama Hasse Pais Brandão

domingo, 21 de outubro de 2007

Musical

Queridas baixinhas notáveis
Numa tarde gostosa da minha infância, mamãe voltou para casa feliz por ter encontrado e conversado com Elis Regina. Lembro dos comentários e sábios conselhos que essas duas mulheres tão especiais trocaram, e do carinho que minha mãe guardou a linda carteira de pelica bordo italiana com a assinatura da ‘pimentinha’.
Com dona Elly aprendi a gostar e reconhecer as qualidades da incomparável e insubstituível Elis. Daí vem o especial carinho que sinto pelos seus três filhos e minha torcida para que sejam bem sucedidos e felizes.
Essa mesma alegria antiga senti ao ler a entrevista do inovador e competente João Marcelo, filho de Elis e Ronaldo Boscoli, sobre o inédito Álbum Virtual, que será lançado pela sua gravadora Trama.
Trata-se de arquivo musical digital com doze ou quatorze faixas, imagens e dados técnicos, que será disponibilizado legal e gratuitamente na web. A remuneração do artista será paga por empresa patrocinadora que adquirirá o álbum virtual. Assim, todos os direitos artísticos e autorais serão preservados e pagos, o formato da obra escolhido pelo artista será mantido e o público não pagará nada. O Álbum Virtual seguirá a mesma idéia do Download Remunerado já existente no site da Trama. Remunerado para o artista e gratuito para o usuário.

http://trama.uol.com.br/portalv2/home/institucional.jsp

http://trama.uol.com.br/portalv2/home/index.jsp

* * *

Camaleão multimídia

Breve nota sobre a saída de Madonna da Warner Music e seu novo contrato com a Live Nation Inc. Segundo o The Wall Street Journal, a artista multimídia receberá US$ 120 milhões por um contrato de dez anos. Por que essa notícia chamou minha atenção? Considere que a sra. Ritchie é artista pop há duas décadas e meia e, aos quarenta e nove anos, negociou contrato milionário até 2017. Precisa de mais? Essa geração ainda derrubará muitas barreiras.

sábado, 20 de outubro de 2007

One art

"The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three beloved houses went.
The art losing isn't hard to master.


I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
art of losing is not master
though it may look like (Write it!) a disaster."

Elizabeth Bishop

domingo, 14 de outubro de 2007

Adélia Prado


"Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva."

* * *

"A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome."

* * *

"Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho."

sábado, 13 de outubro de 2007

Surrender, Dorothy. The hardest part is letting go.

"Fresh off of her Academy Award nominated triumph in 'Something's Gotta Give', the next logical move for Diane Keaton wa a low budget, made-for-television weeper with an unknown cast.
A grieving mother is attempting to come to terms with her daughter's sudden death. In an attempt to better understand her daughter's life, she moves in with her daughter's friends in the rundown beach house where the group spent their summers. In her journey toward healing, she bonds with the group of young friends.
'The Wizard of Oz' must be the single most referenced work in movie history. In this particular case, Natalie (Diane Keaton) always begins phone calls to her daughter Sara, with the phrase "Surrender, Dorothy." The phrase early in the movie is a touchstone for the mother/daughter bond between Natalie and Sara. Later, it becomes symbolic of Natalie's loss.
Sara dies in a car accident while riding with her best friend Adam (Tom Everett Scott). He - along with a young couple and their baby - has shared a beach house with Sara every summer for years. When tragedy strikes, it isn't long before Natalie pays a visit and decides to stay awhile (much to the chagrin of Sara's friends). What follows is a character piece in which a group of people come to a deeper understanding of each other on the occasion of the death of one they all
loved. As Natalie gets to know Sara's friends, she realizes that her daughter had many secrets and was not the girl she thought she knew. The movie's di
alogue is fairly well written. 'Surrender, Dorothy' contains moments of self-discovery, forgiveness, and revelation that the viewer will see coming a mile away. You can found yourself quite emotionally detached during what should have been a touching climax to the film. The straightforward screenplay doesn't go much for subtlety or nuance, and performances are merely adequate. This seems to be what we've got in 'Surrender, Dorothy': We can feel better now."

There's no place like home

Dorothy fugiu de casa por que não agüentava mais sua tia Emma.
Essa é a justificativa do espirituoso e divertido filme “Monty Phyton’s The Meaning of Life”.

Portanto, o cão Totó, a tempestade, o tufão e o ciclone seriam meros pretextos da valente infanta, que deu cabo das maldosas Bruxas do Leste e do Oeste e fez amizade com a Boa Bruxa do Sul, as feitiçeiras regionalizadas de Oz.
O famoso caminho de tijolos amarelos (“follow the yellow brick road”), a cor dos sapatos que gerou tanta polêmica – vermelhos, pretos, ou, prateados – e os amigos conquistados no melhor estilo “upa neguinho” (“...Capoeira? Posso ensinar. Ziquizira? Posso tirar. Valentia? Posso emprestar. Liberdade só posso esperar.”) encantam crianças e adultos desde o século XIX.
O Leão Covarde que aprendeu a ter coragem, o Homem de Lata que conquistou o coração e o Espantalho, que ganhou o cérebro “para produzir excelentes pensamentos”, são personagens que transmitem mensagens interessantes.
Renovada a eterna esperança, após tantas aventuras e descobertas Dorothy, finalmente, entende que não há melhor lugar que seu lar...


"Home! And this is my room - and you are all here! And I'm not going to leave here ever again, because I love you all! And - Oh, Auntie Em …

When all the world is a hopeless jumble, and the raindrops tumble all around. Heaven opens a magic lane when all the clouds darken up the skyway. There's a rainbow highway to be found, leading from your window pane to a place behind the sun, just a step beyond the rain.

Somewhere over the rainbow way up high, there's a land that I've heard of once in a lullaby. Somewhere over the rainbow skies are blue, and the dreams that you dare to dream really do come true.
Some day I'll wish upon a star, and wake up where the clouds are far behind me. Where troubles melt like lemon drops. Away above the chimney tops. That's where you'll find me. Somewhere over the rainbow blue birds fly. Birds fly over the rainbow, why then, oh why can't I? If happy little bluebirds fly beyond the rainbow, why oh why can't I? “

Yeah, it's sad, believe me Missy. When you're born to be a sissy, without the vim and verve. But I could show my prowess. Be a lion, not a mowess, if I only had the nerve. I'm afraid there's no denyin' I'm just a dandylion. A fate I don't deserve I'd be brave as a blizzard

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Dia da criança

Recebi cartões alegres para não me esquecer da criança que vai por dentro - jamais me esqueço - e vi as surpresas preparadas pelos pais que conheço: O game de última geração, ou, não sei mais o que, atualmente, as crianças querem e ganham.


O que eu quero - e quero muito - é que todas as crianças deste planeta, sem exceção, sejam crianças de verdade; que sejam respeitadas; tenham seus direitos preservados; conheçam vida alegre e colorido mundo de fantasia; se lambuzem com doces delícias; tenham saúde; aprendam coisas boas e curtam ser crianças pelo tempo que devem ser. É o mínimo.


Foto de Henri Cartier-Bresson

Paulo Autran


Paulo Autran (1922 – 2007)

Numa dessas pausas que temos para refrescar a vida, meu filho e eu assistimos a peça de Molière “O Avarento”, a nonagésima e última da carreira do talentoso ator Paulo Autran.

Qualquer texto escrito sobre esse semideus do tablado, falecido nesta data, repetiria os mesmos merecidos elogios e confirmaria seu justo reconhecimento.

Pessoamente mantenho forte lembrança de outro cenário, há vinte anos, em mágica noite na sempre querida Paraty.

O altar da centenária igreja transformou-se no palco de um homem sem maquiagem, sem produção, sem qualquer aparato, salvo sua natural vocação, que nos proporcionou mágico monólogo – na verdade, fascinante conversa com nossas almas.
Certos encantos ficam para sempre.

Caminho de amanhã

"Vais pela estrada que é de terra amarela e quase sem nenhuma sombra.
As cigarras cantarão o silêncio de bronze. À tua direita irá primeiro um muro caiado que desenha a curva da estrada. Depois encontrarás as figueiras transparentes e enroladas; mas os seus ramos não dão nenhuma sombra.
E assim irás sempre em frente com a pesada mão do Sol pousada nos teus ombros, mas conduzida por uma luz levíssima e fresca. Até chegares às muralhas antigas da cidade que estão em ruínas.
Passa debaixo da porta e vai pelas ruas estreitas, direitas e brancas, até encontrares em frente do mar uma grande praça quadrada e clara que tem no centro uma estátua. Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela.
Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim. E olha bem o branco, o puro branco, o branco de cal onde a luz cai a direito. Também ali entre a cidade e a água não encontrarás nenhuma sombra; abriga-te por isso no sopro corrido e fresco do mar.
Entra no mercado e vira à tua direita e ao terceiro homem que encontrares em frente da terceira banca de pedra compra peixes. Os peixes são azuis e brilhantes e escuros com malhas pretas. E o homem há-de pedir-te que vejas como as suas guelras são encarnadas e que vejas bem como o seu azul é profundo e como eles cheiram realmente, realmente a mar.
Depois verás peixes pretos e vermelhos e cor-de-rosa e cor de prata. E verás os polvos cor de pedra e as conchas, os búzios e as espadas do mar. E a luz se tornará líquida e o próprio ar salgado e um caranguejo irá correndo sobre uma mesa de pedra.
Á tua direita então verás uma escada: sobe depressa mas sem tocar no velho cego que desce devagar. E ao cimo da escada está uma mulher de meia idade com rugas finas e leves na cara. E tem ao pescoço uma medalha de ouro com o retrato do filho que morreu. Pede-lhe que te dê um ramo de louro, um ramo de orégãos, um ramo de salsa e um ramo de hortelã.
Mais adiante compra figos pretos: mas os figos não são pretos mas azuis e dentro são cor-de-rosa e de todos eles corre uma lágrima de mel. Depois vai de vendedor em vendedor e enche os teus cestos de frutos, hortaliças, ervas, orvalhos e limões.
Depois desce a escada, sai do mercado e caminha para o centro da cidade.
Agora aí verás que ao longo das paredes nasceu uma serpente de sombra azul, estreita e comprida. Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do sol.
Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada. Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos.
Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível. "

Sophia de Mello Breyner Andresen


Obrigada, Felipe, pelo belo 'texto-presente' sobre 'a maravilha das coisas simples'.
http://luizfelipecoelho.multiply.com/

Um dia


"Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.


O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais.


Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala."

Sophia de Mello Breyner Andresen

Sonoridade

O som das patinhas do cão nos tacos de madeira
O som da água corrente. Sim, o mágico som da água corrente
O som do celular e os diversos sons que vêm com ele
O som do acordar de filho
O som do leite com chocolate
O som do dia
O som da calma
O som do feriado

Certas coisas têm a capacidade de tornar os sons mais intensos

Certos sons nos causam regalo

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

"Milágrimas"


"em caso de dor ponha gelo

mude o corte de cabelo

mude como modelo

vá ao cinema dê um sorriso

ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo

se amargo foi já ter sido

troque já esse vestido

troque o padrão do tecido

saia do sério deixe os critérios

siga todos os sentidos

faça fazer sentido

a cada mil lágrimas sai um milagre

caso de tristeza vire a mesa

coma só a sobremesa coma somente a cereja

jogue para cima faça cena

cante as rimas de um poema

sofra penas viva apenas

sendo só fissura ou loucura

quem sabe casando cura ninguém sabe o que procura

faça uma novena reze um terço

caia fora do contexto invente seu endereço

a cada mil lágrimas sai um milagre

mas se apesar de banal

chorar for inevitável sinta o gosto do sal do sal do sal

sinta o gosto do sal

gota a gota, uma a uma

duas três dez cem mil lágrimas

sinta o milagre

a cada mil lágrimas sai um milagre

cante as rimas de um poema

sofra penas viva apenas

sendo só fissura ou loucura

quem sabe casando cura ninguém sabe o que procura

faça uma novena reze um terço

caia fora do contexto mas se apesar de banal

chorar for inevitável sinta o gosto do sal do sal do sal

sinta o gosto do sal

gota a gota, uma a uma

duas três dez cem mil lágrimas

sinta o milagre

a cada mil lágrimas sai um milagre

cante as rimas de um poema

sofra penas viva apenas

sendo só fissura ou loucura

quem sabe casando cura ninguém sabe o que procura

faça uma novena reze um terço

caia fora do contexto invente seu endereço

a cada mil lágrimas sai um milagre.”


Alice Ruiz e Itamar Assumpção


04 de setembro de 2005 – Sesc Pinheiros.
Cada palavra do belo texto acima, foi entoada com suave e encantadora melodia por Alice Ruiz e Anelis, filha de Itamar Assumpção.
Esse momento único fez parte do excelente espetáculo "Milágrimas" dirigido por Ivaldo Bertazzo.
O privilégio de ter vivido ocasião de tal sorte, tão intensa e terna, permite o benefício das sensações infinitas.

"Rimagens"


Alice Ruiz

Ítaca


“Se partires um dia rumo à Ítaca

Faças votos de que o caminho seja longo

repleto de aventuras, repleto de saber.

Nem lestrigões, nem ciclopes,

nem o colérico Posidon te intimidem!

Eles no teu caminho jamais encontrarás

Se altivo for teu pensamento

Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar

Nem lestrigões, nem ciclopes

Nem o bravio Posidon hás de ver

Se tu mesmo não os levares dentro da alma

Se tua alma não os puser dentro de ti.

Faças votos de que o caminho seja longo.

Numerosas serão as manhãs de verão

Nas quais com que prazer, com que alegria

Tu hás de entrar pela primeira vez num porto

Para correr as lojas dos fenícios

e belas mercancias adquirir.

Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos

E perfumes sensuais de toda espécie

Quanto houver de aromas deleitosos.

A muitas cidades do Egito peregrinas

Para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.

Estás predestinado a ali chegar.

Mas não apresses a viagem nunca.

Melhor muitos anos levares de jornada

E fundeares na ilha, velho, enfim.

Rico de quanto ganhaste no caminho

Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.

Uma bela viagem deu-te Ítaca.

Sem ela não te ponhas a caminho.

Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu

Se a achas pobre.

Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.

E, agora, sabes o que significam Ítacas.”

Constantinos Kavafis

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

e e cummings (1958)


"i carry your heart with me (i carry it in
my heart) i am never without it (anywhere
i go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)
i fear
no fate (for you are my fate, my sweet) i want
no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart (i carry it in my heart)"