Os seis bailarinos que compõem as diferentes cenas parecem revigorados pela dança que fazem, como se, finalmente, tivessem encontrado a sua dança. Depois de várias tentativas, fundamentais e indispensáveis para que ficasse clara uma dificuldade histórica e estrutural, quem sabe seja esse o formato que melhor responde a esses intérpretes. Mistura de dança com teatro. Helena Kratz, no Estado de São Paulo.
Fui a pé de casa para o Teatro Municipal e isso já é motivo de boa folia. Gosto muito de caminhar pelas cidades, descobrir coisas novas e cumprir pequenos desafios diários representados por ações, trajetos, comportamentos, pensamentos e boa energia renovada.
O espetáculo meta-sensoriais foi inusitado, não pela coreografia, cruel e exigente para os bailarinos, mas pela participação do público. Em momento algum ficamos na platéia e acompanhamos as diversas cenas nos bastidores e no palco do Municipal.
Estar naquele ambiente secular e restrito, com suas paredes imensas de tijolos aparentes e as sensações que surgem já é um espetáculo. Confesso que no início me senti em guarda – ah, menina, relaxa – porque desconhecíamos a dinâmica, andávamos em ambiente inédito e escuro e me preocupei com algumas senhoras de idade que lá estavam. Interagir nem sempre é proposta fácil. Havia fios e luminárias no chão e os próprios bailarinos que nos orientavam com luzes fracas, também estavam tensos. Mas a coisa flui, os olhos se acostumam com a escuridão e nos integramos ao espaço. Muitos movimentos lembravam ritos africanos e a capoeira. Utilizaram o calor que emanou de um aquecedor elétrico para abrir um saco plástico na cena do bailarino que dançou com vários sacos plásticos, seus sons e formas. Noutra cena utilizaram papéis polimorfos perfumados e o aroma exalado era muito gostoso. Ao acenderem as luzes, dei de cara com a platéia do Teatro. Foi mágico. Timidamente caminhei até a beira do palco e olhei para o teto, para os afrescos clássicos com palavras gregas. Soltei-me e resgatei sensação que há tempos estava esquecida. Conversamos com os bailarinos – que corpos tão bem trabalhados - e comentei sobre a beleza e crueza da coreografia, pelo esforço demandado. A resposta foi interessante: E ainda somos todos quarentões. Saímos do bom espetáculo nos sentindo muito melhor.
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