Nossa casa é a nossa mais clara extensão. Talvez mais do que a casa, as plantas e os animais de estimação que nela estão. Por isso, cão estressado é alerta para dono nervoso, planta murcha corresponde a dono de casa triste e por ai vai.
Nós, o ambiente e tudo que nele está, exercemos ação mútua, influenciamos, trocamos e absorvemos energia.
Outro dia, durante nosso habitual café, conversei com um amigo sobre minha mais nova mania de mudar todas as coisas da sala de lugar: Retiro móveis, coloco outros, troco os adornos, planto mudas diferente e crio novo ambiente. Assim, todos que freqüentam a nossa casa, tecem os mesmos comentários sobre o aconchego, a paz, a tranqüilidade e o abraço – este o mais carinhoso de todos – que a casa daria em quem nela entra.
A observação que ouvi desse amigo foi bem humorada e perspicaz, além de lembrar-me daquele outro canto, ali, no qual pouco entro, ajeito, bagunço e deixo de lado. Pois se tudo tem seu tempo certo, também tem sua razão de ser.
Poucas palavras para entender um universo: Minha mãe tinha forte presença, era adorada - principalmente pelo meu filho, centralizava todas as nossas atenções e dedicações e morreu em nossa sala diante de nós. Imagino que a morte inesperada de qualquer pessoa diante de nós é bem traumática, ainda mais da nossa mãe.
Semana passada, durante o jantar, pela primeira vez conversamos sobre o tema e meu filho comentou que havia retirado da memória determinado detalhe.
Descobri a razão do meu comportamento: Eu me lembro de tudo e, por isso, alterei várias vezes o espaço, exorcizei as lembranças tristes, purifiquei a morte e transmiti nova energia para o lugar. Tem que ser mulher para fazer isso, e carregar um conhecimento natural, herança longínqua, que o verdadeiro feminino materno conhece por intuição. Senti a leveza, encontrei o equilíbrio e parei com a mudança da sala. Agora, voltei-me para o canto deixado de lado e confesso que é bem dolorido mexer em certos papéis, correspondências, fotos, e-mails impressos e agendas. Como é o tempo certo, as coisas de minha mãe foram finalmente separadas com saudoso carinho e sei que farão pessoas felizes. Muitos papéis foram rasgados, livros limpos e arrumados numa ordem perfeita, bela e funcional que eu nunca havia experimentado antes - lembrar e descobrir alguns livros me proporcionou imenso prazer – fotos foram apreciadas e as agendas, ah, as agendas me deram uma mistura de alento com tristeza danada, porque constatei que há tempos o maior e mais marcante incômodo, a razão de minha maior tristeza, não era apenas intuição, mas realidade. Dói muito o persistente erro cometido por outrem. Catarses. Reaprendi comportamento inédito que por mim é praticado em favor do outro, apesar da vida inteira tê-lo negado para mim: Nunca fui complacente comigo, mas pela primeira vez trato-me com carinho e brandura, e permito que minha mente converse com meu coração apertado e amorosamente o aninhe a dizer: Ah, minha querida menina...
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