quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Rapidelas

Andei impaciente com coisas que causam impaciência. Nesta semana tive reações inéditas, surpreendentes, espantosas, como se eu fosse duas: a outra, nervosa, emotiva e implacável e eu, incomodada e desgostosa com a outra, a procurar o freio para estancar suas reações. Há tempos não sentia essa força que na marra coloca as coisas em seus devidos lugares, feito uma leoa selvagem com a mente e as palavras extremamente ágeis e certeiras, agudas, sem qualquer filtro ou ponderação, sem o deixa disso, o calma, o você não é assim, você não tem esse jeito e o olhar capaz de amansar o minotauro, a hidra, a medusa e torná-la estátua de ornamentação duvidosa. Anos em demasia vivi pasmada, apalermada, marolinha fraca e tímida, folha seca que foge do vento e permanece quieta cada dia mais amarelada, quase translúcida, protegida sob algum galho qualquer coberto de musgos. De brisa amena para vulcão em irrupção foi um pulo, um longo pulo em câmara lenta que durou milhares de dias e longos períodos de observação. O diapasão oscilou do timbre mais baixo ao mais alto e fez jorrar vida. Agora, basta permitir que sua natural vibração afine cada vez mais este instrumento. A oscilação abrupta, inesperada, pode ser sábia.

Sair com o cão é costume necessário e prazeroso. A alegria do cão contagia e sua gratidão pelo passeio, seu jeito todo especial na volta é algo que vale infinitos passeios para curtir infinitas voltas. Esse é assunto do filho, pela responsabilidade de ter trazido o cão para nossas vidas e pelo exercício de seu direito de dono - como se o cão não nos considere parte de sua matilha. Sábado passado acordei com dor de cabeça e assim fiquei durante o dia, com um único intervalo experimentado durante o café no lugar gostoso de sempre, sob o sol ameno da tarde de outono e as adoráveis cores que a visão alcança. Pausa para ler Steinbeck e soltar a mente, o espírito, soltar-se inteira. À noite com a dor enfraquecida cismei que acompanharia os dois durante o passeio - o filho e o cão. Cismei. Mudamos o percurso, o cão desconsiderou sua cadência caminhamos mais, aumentamos o espaço. Vinte minutos. Esse foi o tempo que nos fez dizer graças a Deus e relembrar que esta vida é sagrada, presente divino. Vinte minutos para estampidos repetidos, gritos, refrões ameaçadores de pneus desafinados preencherem os sons característicos das noites de sábado. Quietos nós dois, somente o cão a levantar suas orelhas e correr até a porta para farejar, decidir sua estratégia e montar sua guarda. Trinta minutos para o filho ligar do início de sua noite de sábado e comentar sobre os barulhos que dez minutos atrás não quisemos comentar. Cismas de mãe com ouvidos soprados por anjos.

Mães e filhas, relação complicada. Duas mulheres só podem conviver harmoniosamente se desnudas de todas as cargas, camadas e complexos. Providas de amor integral e incondicional. Eu não quis parir filha. Talvez a sabedoria do meu útero tenha traduzido com antecedência significados ainda em parcial obscuridade. Não, esta mulher vem com carga materna diferenciada e não saberá gerar filha com a leveza que tanto sublima. Agora, o sábio útero libera de seu domínio mensagens secretas e abraça as filhas que não teve e reconhece os erros e acertos de outras mães. Tudo em seu tempo certo.

Joguinhos, charminhos, meiguices, pseudo insegurançazinhas aparentes, olhares planejados, sorrisos falsos, cabeças teatralmente inclinadas para o lado, planinhos manipuladores. Continuo sem estômago para tanto melado.

Maquiagem. Ah, mágicas cores corretivas daquilo que a natureza comanda, a genética define, a vaidade exige. Adoro acordar com este rosto que será limpo, tonificado, hidratado e receberá apenas camada adicional de filtro solar. Adoro a rebeldia da desconsideração dessas mágicas cores corretivas. Adoro este jeito que não muda. As cores surgem poucas, quase nada, apenas ao redor dos olhos, ao longo dos cílios e nos lábios em dia de festa, ou não. Liberdade um de seus vários nomes é naturalidade.

Imagem de Robert Indiana

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