Sair com o cão é costume necessário e prazeroso. A alegria do cão contagia e sua gratidão pelo passeio, seu jeito todo especial na volta é algo que vale infinitos passeios para curtir infinitas voltas. Esse é assunto do filho, pela responsabilidade de ter trazido o cão para nossas vidas e pelo exercício de seu direito de dono - como se o cão não nos considere parte de sua matilha. Sábado passado acordei com dor de cabeça e assim fiquei durante o dia, com um único intervalo experimentado durante o café no lugar gostoso de sempre, sob o sol ameno da tarde de outono e as adoráveis cores que a visão alcança. Pausa para ler Steinbeck e soltar a mente, o espírito, soltar-se inteira. À noite com a dor enfraquecida cismei que acompanharia os dois durante o passeio - o filho e o cão. Cismei. Mudamos o percurso, o cão desconsiderou sua cadência caminhamos mais, aumentamos o espaço. Vinte minutos. Esse foi o tempo que nos fez dizer graças a Deus e relembrar que esta vida é sagrada, presente divino. Vinte minutos para estampidos repetidos, gritos, refrões ameaçadores de pneus desafinados preencherem os sons característicos das noites de sábado. Quietos nós dois, somente o cão a levantar suas orelhas e correr até a porta para farejar, decidir sua estratégia e montar sua guarda. Trinta minutos para o filho ligar do início de sua noite de sábado e comentar sobre os barulhos que dez minutos atrás não quisemos comentar. Cismas de mãe com ouvidos soprados por anjos.
Mães e filhas, relação complicada. Duas mulheres só podem conviver harmoniosamente se desnudas de todas as cargas, camadas e complexos. Providas de amor integral e incondicional. Eu não quis parir filha. Talvez a sabedoria do meu útero tenha traduzido com antecedência significados ainda em parcial obscuridade. Não, esta mulher vem com carga materna diferenciada e não saberá gerar filha com a leveza que tanto sublima. Agora, o sábio útero libera de seu domínio mensagens secretas e abraça as filhas que não teve e reconhece os erros e acertos de outras mães. Tudo em seu tempo certo.
Maquiagem. Ah, mágicas cores corretivas daquilo que a natureza comanda, a genética define, a vaidade exige. Adoro acordar com este rosto que será limpo, tonificado, hidratado e receberá apenas camada adicional de filtro solar. Adoro a rebeldia da desconsideração dessas mágicas cores corretivas. Adoro este jeito que não muda. As cores surgem poucas, quase nada, apenas ao redor dos olhos, ao longo dos cílios e nos lábios em dia de festa, ou não. Liberdade um de seus vários nomes é naturalidade.
Imagem de Robert Indiana
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