terça-feira, 1 de julho de 2008

Cotidiano

A sapataria da esquina

Lá, bem na esquina da Cardoso com a Itápolis, existe um sapateiro diferente de todos os outros. Alto e magro, de segunda a quinta ele veste calça social, camisa bem passada e gravata – as cores variam do rosa ao cinza claro e o tom de seus sapatos combina com o traje formal. Nas sextas feiras, ele assume o casual day e usa camiseta branquíssima, jeans e tênis. Seu estabelecimento fica na esquina da padaria e é composto por dois banquinhos de madeira: num ele se senta e no outro ele apóia a furadeira, que substitui o maquinário existente em qualquer sapataria. É com a furadeira que ele lixa e alisa os saltos consertados e as solas recém colocadas. É com ela, também, que ele lustra os sapatos. Tudo adaptado da forma mais criativa possível.
Para os dias de pico, que não são poucos, um auxiliar se ajeita como pode na calçada irregular e estreita. No mais, um martelo, pregos, graxas e panos.
Semana passada, o estabelecimento da esquina foi decorado com uma poltrona antiga para que as pessoas tenham seus sapatos engraxados com conforto.
Quase todos os empregados dos escritórios próximos – e são muitos - deixam nessa esquina seus sapatos para conserto. Outro dia, um senhor mal humorado reclamou sobre a ocupação da “rua pública” pelo mais novo empreendedor.
Nesses meses percebi o jeito do sapateiro, que passou do tímido para o seguro com desenvoltura.
Gosto daquela imagem. Gosto da ação positiva e honesta que transpõe a dificuldade e a lamúria.


Calçadas e pedestres

Calçadas estreitas, desniveladas, esburacadas e irregulares. Movimentadas. Calçadas movimentadas e estreitas. Não, bandos que insistem no andar vagaroso e concentrado, não. Pode parecer agradável o caminhar lento de pessoas que, lado a lado, conversam calmamente e ocupam toda a largura da calçada. Parece agradável. Mas não para quem quer passar em outro ritmo, sem conseguir.


Bufês impacientes

Não adianta virar e revirar a bendita folha de alface para tentar descobrir se existe alguma coisa além da alface. Se você optou por arriscar uma cisticercose, abandone o hábito de permanecer cinco minutos diante da travessa com folhas cruas. Por favor, deixe o papo furado para depois da balança e não empaque mais ainda a fila. Suco, refrigerante, água, cerveja, chá gelado... Para alguns tudo isso junto e à disposição pode gerar grave dilema existencial.

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