Acostumar-se com algo é ultrapassado, talvez até inapropriado. Novidades sempre. Nossa (combalida) capacidade de adaptação é constantemente desafiada. Como? Mais de um ano longe deste blog? Ah, querida, você encontrou tanta novidade (gráficos, estatísticas, novo layout interno, dados sem-fim, informações úteis e inúteis) e pensou ser bem mais interessante sair desta página e cuidar da vida, curtir um bom livro e música de primeira, bater um longo papo com pessoas queridas, passear com o cão, ir ao cinema, preparar alguma gostosura (aprendeu a cozinhar gostosuras e, principalmente, aprendeu a gostar de cozinhar). Mas persistente e um tanto curiosa respira fundo, alonga a coluna, cruza os braços e finca o pé direito enquanto pensa: Este aqui também é meu pedaço, sem dúvida amorosamente compartilhado, e resolve ficar enquanto quiser ficar. Eu sei bem como é. Você oscilou entre o que chatice tanta mudança e o fato desta coisa cheia de textos e fotos e vídeos e poesias ter sido, em parte, o que ajudou a segurar o que se apresentou para ser segurado - e o que se apresentou para ser segurado foi um monstrengo malvado e indócil do tamanho do mundo, ou, uma pena suave e frágil, porque o todo não passa de nada dependendo da perspectiva; assim, o caos se torna a melhor fonte de criação e superação. Afinal, o caos é o princípio de tudo.
Lições, preciosas lições, que somente um ser totalmente desprovido de sensibilidade e inteligência - da mediana, nada muito especial - deixaria de reconhecer e aprender e entender que a vida, bom a vida tem uma criatividade surpreendente e a disposição de dedicada e incansável professora que, carinhosamente, sorri para determinado aluno, depois, dá uma carinhosa piscadela, joga o giz na cabeça do aprendiz, uma pedrinha, uma bolinha de gude, um tijolo, uma pedreira inteira, até a adorável criaturinha acordar e, finalmente, aprender. E a dedicação da vida não se limita à pedreira jogada sobre a cabeça (ainda bem que ela, a vida, não sofre da síndrome da Rainha de Copas de Alice), mas também de repetir a lição até confirmar que a garota realmente aprendeu - no caso, em especial, a dizer não, simples assim.
Em outra ocasião virá texto sobre a depressão e tudo o que essa coisa ruim faz com a gente. Quem sabe algo sobre solidão adorável e construtiva. Sobre odisseias internas, tão assustadoras e dolorosas quanto abençoadas e admiráveis. Sobre Cíclopes e Lestrigões apavorantes e imaginários. Sobre vida e entusiasmo.
No mais, se quiser e puder guarde bem esta imagem: Os 50 são adorável e exclusiva ponte entre os 40 e os 60. É a segunda adolescência desprovida da angústia e dos incômodos da primeira. É a época mais espetacular da nossa vida. Acredite. Por isso, cuide para atravessar essa ponte tão especial com o máximo de leveza que puder, acompanhado pela essencial fluidez. Tudo apenas começa.
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