Há alguns dias, enquanto eu mudava os canais em busca de algo interessante, ouvi uma frase que chamou minha atenção e assisti ao filme Mulheres Sexo Verdades Mentiras, 2007, de Euclydes Marinho, com Júlia Lemmertz.
Não sei bem se recomendo esse filme. A personagem de Júlia é uma cineasta recém separada, que se encontra esporadicamente com um homem que a satisfaz sexualmente. Empolgada com o prazer sentido, ela decide realizar um documentário sobre sexo e entrevista inúmeras mulheres de diferentes classes sociais, idades e profissões. Reconheço que ri com algumas situações, fiquei impressionada com determinados depoimentos, concordei inteiramente com outros e achei algumas entrevistadas exageradas, meio agressivas, mulheres que assumiram a maneira de pensar e atitudes típicas de alguns homens.
O depoimento da mulher de um rabino e do próprio rabino foi, no mínimo, inusitado: Segundo o casal estaria definido, em contrato, que os maridos devem satisfazer suas mulheres duas, três vezes por semana, caso contrário, a mulher pode pedir o divórcio.
No filme existem mulheres liberadas, exageradas e sem qualquer temor ou cuidado, enquanto outras mantêm comportamento recatado. Há as que tentam parecer liberadas, mas não são. Algumas mulheres acompanham seus maridos, mas são infelizes por não apreciarem o que fazem. Há as que sequer sabiam responder o por que de alguma situação e para essas, o pra que estaria totalmente fora de questão. As entrevistas afetam a cineasta, que passa a querer um relacionamento amoroso com seu parceiro sexual, ao invés dos encontros ocasionais e sem compromisso. Surge a frase que os malandros ouvem e costumam fugir, a sensação de vazio, mas com o tempo Júlia e o amante resolvem a situação da melhor maneira e assumem seus sentimentos.
Enquanto Júlia conversava com a melhor amiga sobre seu casamento morno e a paixão por outro, surgida durante o casamento, as duas admitiram o quanto a internet facilita o contato entre os amantes. Através do PC ou de algum celular como o Blackberry, a internet exclui obstáculos. Se parássemos para pensar, sem dúvida enlouqueceríamos: É impossível viver em constante vigília, invadir a privacidade do outro e desrespeitar os limites da vida a dois, apesar de muitos utilizarem a internet para burlar o comportamento correto e esperado dos que mantêm um relacionamento sério e residem com seus parceiros ou companheiros. Por outro lado, impressiona a leviandade dos que mantêm algum tipo de conexão com pessoas comprometidas, e desconsideram o mínimo de honestidade, educação e delicadeza, primordiais em situações desagradáveis como são as baseadas em traições, mentiras e engodos. Se bem que delicadeza e honestidade nunca combinaram com traição. É forçoso admitir que através da internet diversas pessoas se qualificam de maneira equivocada, desnecessariamente expõem detalhes, provocam, trazem para si toda a atenção em franca desconsideração aos demais. Há pouquíssimo tempo, uma mulher que mantivesse relacionamento com um homem comprometido, não exporia essa situação. Por ele, por ela própria e pelas pessoas envolvidas. Enfim, sexo, mentiras, verdades e a internet criaram fórmula explosiva e, fatalmente, reincidente pela facilidade existente.
O final do filme surpreende pelas entrevistas feitas com alguns homens: Românticos e sonhadores acreditam na fidelidade e no amor. Há alguma coisa estranha no ar.
Imagem de Avedon e Hai-Kai de Alice Ruiz
Um comentário:
Resta repetir (concordando, talvez; indagando um pouco): "Há alguma coisa estranha no ar".
Ótimo texto.
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