quarta-feira, 28 de abril de 2010

Prazer de pura percepção os sentidos sejam a crítica da razão

Poesia de Paulo Leminski

Gentileza, educação e honestidade nos diversos sites sociais - panos caídos



Há tantos comportamentos equivocados praticados nos diversos sites sociais. A regra básica, para entendimento geral, é : Não faça alarde de sua vida amorosa e, principalmente, não magoe ninguém!

Brasília vista do espaço


Imagem de Brasília divulgada no Twitter pelo astronauta Soichi  Noguchi, International Space Station.

Dez curtas sobre o corpo humano


Cut up, variations sur le corps: dix films


Dez curtas metragens produzidos por franceses,  ingleses, alemães norte-americanos e holandeses, sobre o corpo humano.

Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda sabe, só umas raríssimas pessoas

“Aprecio imagens aliadas à escrita, frases escolhidas definindo melodicamente a linha da orquestração. Em livros como os de Diane Arbus, de Nan Goldin, há essa orquestração: ritmos, silêncios, acordes, vazios, a palavra, escolhida da produção literária ou pinçada do testemunho biográfico, vem da fala íntima da pessoa, destilada. Seria quase como escrever com a imagem e ver com a palavra.”  Maureen Bisilliat

Até o próximo dia 04 de julho, a admirável exposição das fotografias da talentosa Maureen Bisilliat, estará no Centro Cultural FIESP, na avenida Paulista, 1313, cidade de São Paulo. Na obra de Bisilliat vemos poesia e prosa em forma de fotografia. Dividida em quatro temas sequenciais, encontramos a Bahia ("bahia amada amado"), o sertão de João Guimarães Rosa, a beleza do negro ("pele preta"), as "mulheres caranguejeiras" da Paraíba, os vaqueiros do nordeste enaltecidos por Ariano Suassuna, os índios ("Xingu/terra") acompanhados por Villas Bôas. Há ainda uma parte da Bolívia, da China e do Japão. 

Imagem de Maureen Bisilliat, casamento no sertão, obra pertencente ao acervo do Instituto Moreira Salles.

I asked forgiveness for having survived

"Maléficos, ardilosos, frios, calculistas, insensíveis, inescrupulosos, cruéis, manipuladores, transgressores de regras sociais e absolutamente livres de constrangimentos e julgamentos morais. Passam por cima de qualquer pessoa apenas para satisfazer seus próprios interesses. Sabem exatamente o que fazem e não sofrem nem um pouco com isso. São destituídos de compaixão, culpa ou remorso. 4% da população apresentam esse lado sombrio da mente.
O conceito de consciência transcende teorias religiosas, psicológicas e científicas. A consciência baseia-se em nossa habilidade de amar, de criar vínculos afetivos. A consciência genuína nos impulsiona a ir ao encontro do outro, colocando-nos em seu lugar e entendendo a sua dor (ideia permeada pela empatia). É pela consciência que pedimos desculpas sinceras aos que magoamos e ferimos num momento de equívoco. A consciência também nos comove com situações trágicas, nos traz indignação frente ao mal, nos inspira a zelar pelo nosso animal de estimação, nos leva a apreciar uma bela melodia.
Os perversos são desprovidos da consciência, logo, desconhecem a responsabilidade ética que é base essencial das relações emocionais com os outros. Há os que jamais experimentaram, nem experimentarão a mínima inquietude mental, ou o menor sentimento de culpa ou remorso, por desapontar, magoar, enganar ou até mesmo tirar a vida de alguém. Admitir a existência de criaturas com essa natureza é quase uma rendição ao fato de que o mal muitas vezes está próximo e convive entre nós."
"Mentes perigosas" de Ana Beatriz Silva.

Que nosso Deus nos proteja! Sem dúvida o mal existe e encontra-se abrigado em mentes perigosas. A leitura do livro da psiquiatra Ana Beatriz Silva nos assusta e alerta, ao tentar nos auxiliar no reconhecimento de criaturas perversas.
Para que reconhecer o perverso? Para que identificar o psicopata? Para afastar-se dele. Para evitar que a nossa existência e o nosso emocional sejam devastados pelas atitudes e dizeres dessas criaturas incapazes de sentir empatia, desconhecedoras do arrependimento e totalmente insensíveis ao outro. Para nos preservamos e para mantermos nossa salubridade física e mental. A convivência com o perverso é devastadora e alimenta nosso pior lado, dado a crueldade de suas ações: Fortalece o nosso medo e a nossa insegurança, aniquila a nossa capacidade de reação, desenvolve nossa desesperança e nos faz portadores de doenças crônicas. É pela observação que, aos poucos, nos tornamos capazes de identificar o comportamento, as intenções e as constantes mentiras de um psicopata. É a consideração exclusiva de seus próprios interesses, que torna o psicopata um nômade emocional: Ao longo da vida a criatura perversa mantém inúmeros relacionamentos e repete seus procedimentos e ações. A padronização de seus comportamentos não é sinal de baixa inteligência, apenas da segurança sentida pelo perverso na conquista de seus interesses. É a ausência do arrependimento que torna impossível ao psicopata a redenção. Decência e remorso são palavras cujos conceitos lhe são desconhecidos.
Além do afastamento e da observação, a orientação de profissionais da saúde competentes auxilia a manutenção do necessário distanciamento que devemos manter dos psicopatas.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O grande erro da mulher

É certo que algumas coisas mudaram, conquistamos mais ônus do que bônus e nos enganamos com a ideia de  sermos  livres, apesar do pensamento tacanho e provincial ainda limitar nossos comportamentos, inclusive os que deveriam ser simples e naturais.
Outro dia ao ler o texto publicado no blog 02 neuronios (“ela está almoçando sozinha? tadinha"), percebi que  passados vinte e cinco anos, muita coisa ainda não mudou.
Existe coisa mais corriqueira e banal do que apreciarmos sozinhas nossas refeições em algum restaurante? Nós, mulheres independentes, criadoras solitárias de nossas proles, trabalhamos bem mais do que os homens em prol da manutenção de nossos empregos (sim, enquanto o homem mata um leão por dia a mulher mata dois leões, além de consolar as leoas), ganhamos menos e com certa elegância conseguimos conviver em um mundo cuja essência é machista.
Em 1985, enquanto meu adorado pai, hemiplégico por conta de alguns derrames e com câncer na pleura, passava seus dias no hospital, era eu, findo o horário de visita sempre postergado mais e mais, quem saía do hospital arrasada, faminta e sem a mínima vontade de voltar para casa para não compartilhar com os meus a tristeza e a amargura sentidas.
Assim, após o dia emocional e fisicamente estafante eu ia ao restaurante Box, na rua Padre João Manuel quase esquina com a alameda Franca (lugar então decorado com aerofólios de carros da fórmula 1) para me alimentar, recuperar a energia e retirar parte da tristeza, antes de abraçar o meu lindo pimpolho. Eu ia ao Box porque era o restaurante corriqueiro dos meus tempos de namoro e casamento e porque lá, à época, por mais de uma década, os garçons conheciam a mim e ao meu ex-marido, e um daqueles garçons, não lembro seu nome, mas tenho seu rosto bem guardado na memória, sem que eu pedisse era o meu fiel protetor: Ele postava-se elegante e discretamente em pé, próximo à mesa da frente. Eu nunca fui incomodada, tampouco maltratada e salvo a atitude protetora e discreta daquele garçom, eu nunca me senti diferente.
Em Brasília, lá pelos idos de 1993, a coisa era bem triste. Almoçar ou jantar sozinha em algum restaurante frequentado pela côrte era o mesmo que tornar-se a moça amarrada na roda de madeira diante do experiente atirador de facas. No caso, ferozes atiradoras de facas, com excelente pontaria e olhar fulminante. O preconceito na Capital provinciana vinha da ala feminina.
Em 2010, é inadmissível que as mulheres ainda sintam-se intimidadas e constrangidas a frequentar sozinhas qualquer lugar público: Restaurantes, cafés, cinemas, museus... Não somos seres eminentemente gregários e dependentes, tampouco precisamos de duplas ou grupos para sobreviver socialmente. Ao contrário, temos nossos próprios gostos, saberes e bons momentos de silêncio são sempre benvindos e apreciados.
Pois lá fui eu, na quinta passada, após consultas no Hospital do Câncer e descarte de nova malignidade, almoçar em um restaurante quase grego, na esquina da rua Augusta com a rua Antônio Carlos. Eu estava em júbilo com o resultado negativo dos exames e quis apreciar uma bela porção de calamares fritos, acompanhados por um filê de salmão com legumes. O que mais combinaria com as lulas fritas do que uma bela e gelada cerveja grega, da região de Thessalônica? Detalhe: Eu não costumo beber por não sentir necessidade e, também, por que os medicamentos que tomo não combinam com álcool. Meus Deus! Ocorre que naquele momento eu vislumbrei somente duas alternativas para comemorar minha alegria: Dançar pela avenida Paulista ou brindar à saúde – orações e agradecimentos foram feitos depois. 
O educado garçom do lugar cometeu dois pequenos enganos: De cara chamou-me de “querida” (em troca foi tratado por senhor) e perguntou-me se eu tinha certeza que gostaria de tomar a tal cerveja. Ponto para mim ou para ele? Será que ele pensou: hum, essa moça não tem cara de quem bebe, por isso, devo protegê-la, ou, xi, essa moça ta diferente e vai me dar trabalho se tomar essa cerveja. Macacos e galhos em seus devidos lugares, a gentileza é muito legal em qualquer situação, aqueles foram os melhores calamares fritos que eu comi e aquela foi a melhor cerveja que eu bebi.
Subi a rua Antônio Carlos, atravessei a avenida da Consolação e feliz, voltei a pé para casa.

Earth day

Healing the planet

quarta-feira, 21 de abril de 2010

The sky flows like dreams

Penélope Cruz está com tudo, Javier Bardem incluso, mas ao ver Meryl Streep na capa da Vogue francesa, fica a certeza que o verdadeiro talento (e beleza) não reconhece qualquer limite.

Feriado de sol na cidade de São Paulo - atividades prosaicas - diário fotográfico

De manhã, ânimo para ir ao Instituto Pasteur, na mais paulista das avenidas, para tomar a vacina contra a gripe h1n1. Alguém se lembrou da vacina? Eu não. Eu descobri que entrei na fase do filho levar a mãe para tomar vacina e a chamada “doença crônica” incluiu-me na faixa dos jovens até 29 anos. Não é o máximo? Na fila formada na calçada, alegre e bem humorada igual ao dia, uma mãe e sua filha, ambas, estudantes universitárias, contabilidade e direito, respectivamente, a formatura da mãe será seis meses antes da formatura da filha. Não é o máximo? A filha comentou que há vários pais no curso noturno de Direito e são os filhos que os buscam da faculdade. Ah, eu não vou dizer que é o máximo! Mas é o máximo que a minha geração tenha filhos que se preocupem com a nossa saúde e nosso aprimoramento cultural. A avenida Paulista estava linda.

Depois, uma passeio rapidinho para curtir a exposição dos vestidos do estilista Giambattista Valli e deixar a dica de seu site para que, ao menos, possa ser aproveitada a adorável trilha sonora My sweet Valentine (se não me engano cantada por Chet Baker).
Como ninguém é de ferro e sempre foi mandatório alguma lembrança pelo bom comportamento na hora da vacina, levamos para casa o melhor bolo de chocolate do mundo, ou, um dos melhores, qualidade está que não teve a ousadia de virar marca:  Camadas de delicioso creme de chocolate e suspiro. Você quer sentir mais o sabor do chocolate? Coma ao natural. Eu gosto dele gelado.
No final da tarde, o calor gostoso e o colorido bonito do outono, um bom passeio acompanhada pelo cão, com algumas paradinhas para apreciar o pé-de-jasmim e os canteiros de diversos temperos.

Meninas cinquentenárias

Somos duas meninas com a mesma idade. Fomos companheiras-irmãs, Brasília e eu, de 1993 a 2004.
Desde o ano passado eu venho fazendo as pazes com o Distrito Federal e permitindo que a fluidez natural da vida expurgue todos os temores, os fantasmas, as dores e os pesares, principalmente, aquele olhar interno que tanto nos diferencia do meio e dos demais, além da vontade incrivel de lá não estar.
Venho fazendo as pazes com um monte de coisa que vale a pena e este estado é resultado da leveza readquirida e da sábia liberdade, que por um tempo esteve perdida num emaranhado de coisas ruins. Faço as pazes com a vida, com determinados lugares, com as pessoas realmente queridas e que sabem querer bem.
Quando a imensidão do planalto central me sufocava (terra plana a perder de vista, sem monte ou montanha que quebre a paisagem, sufoca a gente por dentro) era no céu de Brasília que eu me reencontrava. Nas cores incríveis daquele céu que não reconhece mandos, nem desmandos. Todos dos dias a beleza do céu de Brasília desafia a impunidade e relembra sobre a ética. Nas madrugadas da década de noventa, naquela cidade fantasma vazia de tudo nos últimos dias da semana, era muito bom dirigir veloz e prudentemente - sem qualquer paradoxo - a mente lúcida, o corpo são, pelas avenidas amplas, sem fim, retas e convidativas do Distrito Federal. Era a liberdade vinda com vento fresco que entrava pela janela do carro, com a música, com o ar limpo que ampliava os pulmões sufocados pela solidão e pela tristeza de estar em uma terra que não era minha.
Mas os gananciosos engessaram a cidade com as máquinas de fazer dinheiro chamadas radares e com os condomínios atrevidos e poluidores das nascentes de água mineral.
O que vale mesmo, em Brasília, é a faixa de pedestres. Tal qual na Suíça, é no Distrito Federal que todos os carros param para os pedrestres que atravessam na faixa; os mesmos pedestres que não têm muitas calçadas para caminhar.
Os prédios de seis andares da Asa Sul e seus pilotis livres permitiam que cortássemos o caminho entre árvores e construções similares. Em baixo de cada edifício um pomar. É dessa qualidade de vida e do céu de Brasília que eu sinto falta.
Eu sinto falta dos meus poucos recantos e encantos da região centro-oeste, lugares próximos da Capital, tão amados, ansiados e nos quais eu deixei uma boa parte de mim. Por isso, ousada, ah, retiro a ousadia: por isso, honestamente, cada um daqueles recantos me possui e é meu.
Parabéns, Brasília, menina bonita! Que o cinturão envolvente não a sufoque de vez e tire toda a sua beleza, e que seu interior a respeite mais, muito mais

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Homus erectus, remote starting point of the Iliad, wouldn't it have been better if you dreamt on all fours?

Don’t read me if you haven’t
attended the funerals of strangers
or at least memorial services.
If you haven’t
divined the strength
that makes love
the rival of death.
If you haven’t flown a kite on Clean Monday
without monkeying with it.
pulling on the string continually.
If you don’t know if Nostradamus ever
sniffed flowers.
If you haven’t been at least once
to the Deposition from the Cross.
If you don’t know any past perfect.
If you don’t love animals
and, especially, squirrels.
If you don’t hear thunder with pleasure,
wherever you are.
If you don’t know that the handsome Modigliani
drunk at three in the morning,
pounded furiously on a friend’s door
looking for Villon’s poems
and began to read for hours out loud
disturbing the Universe.
If you call nature our mother and not our aunt.
If you don’t joyously drink the innocent water.
If you don’t understand the Flowering Era
is the one you’re living in.
BEWARE
WET PAINT.
Don’t read me
if
you are
right.
Don’t read me if
you haven’t quarrelled with the body . . .
Time I was going,
I have no more breath.

Seja como for, mas seja

Menino, você ainda não aprendeu a pedir desculpas?
Você não aprendeu a pedir desculpas, menino,  ou você não consegue pedir? Você não consegue pedir desculpas ou não consegue entender o que você fez e deixou de fazer, menino? Menino, você não aprendeu a pedir desculpas por que desconhece a culpa, nem imagina o que seja remorso? Pedir desculpas de verdade, menino, não dói tampouco tira pedaço, ao contrário, faz um bem danado e devolve pedaços importantes perdidos para alguém. Às vezes, menino, pedir desculpas se parece com sorriso: Faz bem para quem dá e para quem recebe. Ah, menino, se você soubesse que o pedido de desculpas, sincero e arrependido, diferencia sua essência da essência de pessoas muito ruins. Isso é sério, menino, bem sério. Não sentir culpa, nem arrependimento é coisa muito dura. Se você não percebe o que faz, menino, você  repetirá sem parar os mesmos erros. Assim fica uma única esperança, duas, menino, duas esperanças: Que a vida lhe ensine a pedir desculpas ou que você, algum dia, quem sabe, com muita ajuda, finalmente, se cure.

domingo, 18 de abril de 2010

Then an angel arrives to place flowers on a table in the darkness of the mind

Eyes and fingers

A child is
stooped over
picking flowers
with her fingers
storing away light and gifts.
A man is reading words
sitting
holding down the pages with his fingers
storing away flames and shadows.
Fingers connect
‘Reading and Picking’
Read, picked, and compiled
A child picking flowers. A man reading poems.

*        *        *

The muddied sun

Frothing grape seeds corrode the moon.
A reddish blue twilight spreads through the breath that
carries words,
transports a single spring, a single sea
to the glory of oblivion.
Then an angel arrives to place flowers
on a table in the darkness of my mind
where I ponder and yearn, and
quiet winter infuses fragrance into my dream.
I hear in the wind the rain the dead hear,
soaking thoughts and grasses, moistening the muddied
Sun.

*        *        *

To live

To live
is always convoluted
it constantly harms the so-called Self.
What a sloppy mess it is to live.
I am doing today
what I was appalled to see others doing a few days ago.
While I allow myself love and happiness
the world becomes ambiguous at the point of touching another
what my eyes see during the day will not revert to the
anonymity of Nature

Born like mushrooms from the great earth
we walk on along our paths.
Beautiful lumps of flesh, slack lumps of flesh
different shapes placed over different masses –
allowing skin to blur the lines our eyes see
we see what is vulnerable, and know what is threatened

Wishing to bloom to be something different

Nesta semana pensei em cornucópia e lembrei-me de Amáltheia, a deusa mitológica da ternura, representante do alimento que mantém a vida. Amáltheia que teria recebido de Zeus a cornucópia, objeto associado à fartura.
Pois eu pensei em cornucópia de palavras, de letras encarrilhadas a seguir merecido caminho, vogais e consoantes dispostas de tal forma fluída, capazes de alimentar - mais do que alimentar - capazes de suprir todas as necessidades possíveis e impossíveis, conhecidas ou não.
Palavras mágicas aguardadas, repetidas em silêncio, tal qual um verso ou uma oração, e imaginadas ao longo dos anos para que o esforço, o sentimento e o tempo - vivido, passado e não vivido - não tivessem sido totalmente em vão.
Qual é o valor de um chifre retorcido, figura estranha, recheado de intenções desconhecidas, palavras opostas à ação, carente de oito letras essenciais, que antecederiam e legitimariam a vida? Qual é o valor de um chifre retorcido vazio?

A benvinda e libertadora menopausa

Da série coloquem as crianças para dormir, leiam, conheçam mais e façam suas escolhas esclarecidas sobre o bicho-papão chamado menopausa. A fase que se transforma em nossa melhor aliada.

“A menopausa põe sua vida sob o microscópio: Não é segredo que as crises de relacionamento são um dos efeitos colaterais mais frequentes da menopausa. Geralmente, isso é atribuído aos efeitos alucinantes das mudanças hormonais que têm lugar no corpo da mulher nessa época de transição. O que raramente se reconhece ou se compreende é que embora essas mudanças provocadas pelos hormônios afetam o cérebro, também fazem com que a mulher perceba mais facilmente a desigualdade e a injustiça, dando-lhe ainda uma voz para falar desses problemas. Em outras palavras, dão-lhe uma espécie de sabedoria, bem como a coragem de verbalizá-la.”

Minha mãe jamais conversou comigo sobre o corpo e a sexualidade feminina e, por sorte, dez dias antes do início da minha primeira menstruação eu assisti a palestra ministrada por representantes da Johnson & Johnson na escola de sisters canadenses que eu estudava. Eu tinha dez, quase onze anos, e a partir daquele tempo eu observo como as coincidências me auxiliaram no decorrer da vida. À época, eu ganhei meu primeiro pacote de absorventes na escola e, dez dias depois, confirmado pela mamãe o início da minha "fase mocinha", eu ganhei de meu pai um pacote super luxo de absorventes que a mesma empresa costumava vender. Foi um acontecimento com direito a delicados parabéns, aconchego e a tarde passada na cama, com lanchinhos e refeições servidas na bandeja. Imenso carinho aliado ao estado de quase enferma: Durante os dias de fluxo você não pode lavar o cabelo, nem pensar em entrar na piscina. Puxa! Perder sete dias da piscina do clube todo mês era castigo demasiado, logo, desde o começo eu não gostei de ficar menstruada. Minha frustração aumentou com os comentários de minhas amigas sobre as conversas que tiveram com suas mães: Todas foram devidamente aconselhadas sobre os cuidados que deveriam adotar com as brincadeiras e os namoros com os garotos da turma, afinal, elas eram mocinhas. Eu não recebi esses conselhos. Excetuando a ausência mensal da piscina, continuei a ser a moleca alegre e desportista de sempre. Eu era uma criança e meus pais me conheciam muito bem.
Eu não sei o significado efetivo do termo tensão pré-menstrual, nem fui acometida pela fúria assassina alegada por determinadas mulheres nessa fase, mas eu sei bem o que significam coágulos, hemorragias e, em menor escala, cólicas. Por sinal, as hemorragias, as minhas hemorragias eram incapacitantes, mas eu nunca me apaguei a elas para me ausentar do trabalho um dia sequer, tampouco para diminuir o insano ritmo das atividades que eu desenvolvia. Eu passei apuros, eu me sentia insegura naqueles benditos dias, eu retirei miomas e fiz transfusão de sangue. Hoje, ah! hoje eu sou tão feliz por existir a menopausa e não entendo o motivo do seu significado no dicionário: “idade crítica da mulher”. Que horror!
Igualmente, não entendi o rostinho de pêsames da minha médica ao confirmar o fim do suplicio. Céus! Minha querida doutora, a menopausa é causa de euforia, de jubilo, é a ansiada liberdade, a piscina livre todos os dias e a desconsideração do temor de alguma gravidez não planejada. Pela primeira vez sou eu que mando e não esse fluxo insano que me limitou por tantos anos.
Quantos aos sintomas? Eu acredito não ser à toa a informação de que a menopausa não é doença. Não é. É um ciclo natural que representa o fim da capacidade de gerar um filho, mas jamais o fim da vida, muito menos o fim do prazer. Aliás, o prazer é mais intenso na menopausa.
Escrevo sobre minhas lembranças do início da menstruação para formar o paralelo com o início da menopausa: Nas duas fases a desinformação imperou. Ou melhor, a informação discutível, incompleta, sem base certa. A menopausa leva dez anos para evoluir em nosso organismo e, para mim, isto significa que no final dos meus trinta, início dos meus quarenta anos, meu corpo se preparava para a menopausa e eu não sabia. Relembro atitudes, repenso sentimentos e revivo sensações: Se há dez anos eu soubesse o que eu sei agora - e ainda tenho muito o que aprender sobre a menopausa - sem qualquer dúvida eu teria sido muito mais feliz. Encontrar o médico certo, conversar, perguntar e escolher a melhor alternativa são esforços difíceis. No meu caso, há dois anos e meio, e quase sem períodos menstruais, eu ouvi sonora negativa sobre a reposição hormonal por conta do câncer. Mas é assim que funciona? A medicina encerra o tema e descarta outras possibilidades? O que valia há dez, dois anos, não mudou? Por que temos que conhecer a orientação de um único médico? Por que alguns médicos apenas repetem o que outros médicos dizem? Por que nossas melhores amigas não comentam sobre a menopausa? Se, delicadamente, você tenta trazer o assunto para saber como é a experiência da menopausa, puxa! é muito mais fácil ouvir os mínimos detalhes sobre o relacionamento complicado com o namorado da vez, do que conversar sobre a nossa saúde. Cheia de dúvidas eu fui à livraria pesquisar algum material sobre o tema e encontrei um, apenas um livro, que se tornou verdadeiro achado: "A sabedoria da menopausa", da Dra. Christiane Northrup, que eu veementemente  recomendo. Leiam o livro, conheçam o site Northrup, discutam sobre o tema com diversos profissionais da saúde, conversem com suas melhores amigas. A menopausa não é tabu, muito menos justificativa para vida ruim. Ao contrário, a menopausa é a melhor fase da vida feminina.

sábado, 17 de abril de 2010

Por que as pessoas vestem e nos fazem vestir saias justas?

Não se esqueçam que vocês lêem os escritos de uma sagitariana - típica ou não – cujo melhor conceito encontra-se a seguir: “Nem sempre ela dirá coisas que você quer ouvir. Na maior parte das vezes, ela o arrepiará com suas observações notáveis e francas e perguntas embaraçosas. Vejamos um exemplo: Você acaba de tomar coragem para dizer a ela que a ama, mas antes que você fale ela arregala os olhos castanhos muito sinceros e pergunta curiosa: “Como você se sente tão baixinho? Não fica neurótico com nada?” Enquanto você engole em seco, tentando corajosamente se recuperar, ela acrescenta: “Não precisa se incomodar. Muitos homens foram baixos. Como Napoleão e Fiorello LaGuardia.” Isso quase equivale a somar insulto à injúria, mas antes que você tenha a oportunidade de ir embora, achando que jamais mulher alguma mereceu atitude tão deselegante de sua parte, ela cismará sonhadoramente: “Eu detesto os homens que parecem varapaus. Você é perfeito. Eu reparei quando vínhamos para cá esta noite... temos o tamanho certo um para o outro...” Elas são francas demais porque enxergam o mundo tal qual ele é, mesmo quando usam seus ridículos óculos cor-de-rosa. As sagitarianas são Pollyanas constantes e não adianta zangar-se ou ficar confuso: Elas não têm nenhuma malícia e suas observações chocantes explodem dentro de uma total inocência. Elas não percebem que, em geral, quando procuram endireitar as coisas, além de injuriar elas ofendem. Os sagitarianos não percebem sua própria indelicadeza ao falar. Na verdade, estão convencidos de que são as criaturas mais diplomáticas do mundo...” Linda Goodman
Falta-me traquejo para muitas coisas e, ultimamente, descubro que me falta traquejo para determinados aspectos da vida social. Afinal, qual é a atitude correta ao encontrar uma mulher conhecida, vítima recente de cirurgia plástica cosmética aterradora? O fingimento é atitude impossível, assim como o disfarce da expressão facial (sou lenta para segurar minhas emoções). Talvez abrir um belo sorriso e dizer: Nossa! Como você está diferente, com a pele bem tratada e o rosto mais descansado. É isto? O que dizer para um homem de cinquenta anos, casado com uma mulher de cinquenta, que comenta sobre a recente vasectomia? Hã! Legal. Presumo que vocês não queiram mais filhos...

Imagem de Saul Steinberg

Adagas suspensas enfeitadas com flores

Esta semana foi gostosa, corrida, do jeito que eu aprecio, com descobertas de novos rumos, longas caminhadas, bolhas nos pés e superações.
Três consultas realizadas com especialistas distintas, o descarte de uma nova malignidade (inicialmente afirmada e reafirmada, durante a retirada do material para biópsia – Ah! o jeito certo de tratar o paciente), outras pesquisas a serem feitas, a solicitação de exames complementares e o carinho de ser reconhecida pelas médicas do Hospital do Câncer.
Eu sei que o histórico está na tela do terminal sobre a mesa, mas eu também sei que algumas informações e detalhes não foram inseridos no sistema e ouvi-los, daquelas médicas, apesar da quantidade imensa de pessoas que vão ao Hospital do Câncer de São Paulo, foi alento. Na doença é fundamental que a relação médico – paciente também seja composta pela atenção, pela lembrança.
Quanto ao câncer meu filho diz uma frase tão cruel quanto verdadeira: “Quem procura acha”. Eu prometo que farei o meu melhor para alterar a intenção, amenizar a conotação, retirar o temor e o sentimento desta frase filial.
Quem ouviu o diagnóstico de câncer aprende diariamente: As lições são sobre a recidiva, os cuidados necessários e o manejo da própria psique. Há uma adaga afiada que paira sobre as nossas cabeças e a qualquer momento uma célula desanda, convence as demais e inicia a festa de arromba. Após dois anos e onze meses de convivência com esta adaga eu fiquei ousada: Eu lhe mostro a língua, eu a enfeito com flores, eu ignoro sua existência ou eu fico encolhida no canto com medo.
Mais do que responder se eu estou bem (agora, esta resposta parece ser tão temporária), eu quero ver o espanto nos rostos das pessoas que, por algum motivo, descobrem que eu ouvi o diagnóstico câncer. Mais do que aprender a vida anti-câncer e a valorizar a prevenção, eu quero que todos aprendam a lidar com o temor.
Sobre o câncer de tireóide e o leviano irresponsável comportamento de alguns profissionais da saúde, que afirmam tratar-se de câncer que poderia ser escolhido, caso houvesse a possibilidade dessa cruel seleção: Falamos sobre a região da cabeça e do pescoço e sobre glândula fundamental, praticamente uma bomba-relógio ativada em nosso corpo. Falamos sobre câncer. Logo, encerrem a irresponsável leviandade e ensinem sobre a necessidade de cuidados, inclusive, sobre a realização de exames periódicos, laboratoriais e físicos: O oncologista deve apalpar, minuciosa e periodicamente, o pescoço do paciente, observar a gengiva, a garganta, os olhos e, principalmente, a região periférica (paratireóides, glândulas e tantas outras coisas que compõem nosso organismo). Eu garanto que foi a irresponsável leviandade com a qual tratam nossas tireóides, como se as diversas síndromes e enfermidades que a acometem fossem corriqueiras e sem importância, que propiciou o aumento da incidência do câncer nessa região (os sapos engolidos também ajudam bastante). Assim, baseados na irresponsabilidade de determinados médicos, alguns pacientes desconhecem que a adaga está lá, e  não realizam dois exames laboratoriais fundamentais: Tireoglobulina e Anti-tireoglobulina. Por favor, não os desconsiderem. Não se desconsiderem.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sobre a mesa tens copos, tens vinho

Há tempos escrevi sobre a gentileza, um dos principais atributos da vida, e sobre o encantamento que o conhecimento de novas pessoas nos traz.
Sonia Denicol faz parte das pessoas recém conhecidas, que primam pela gentileza e, generosamente, compartilham seu vasto conhecimento. Ela é consultora em vinhos e eu enfatizo sua especialidade pela maestria com a qual Sonia desempenha sua arte – meu orgulho feminino de filha de atenienses está em alta.
Salve Sonia! Sucesso merecido.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Como nosso cérebro e nosso corpo de meia-idade se dispõem a curar nosso passado


pensar letras
sentir palavras
a alma cheia de dedos
Alice Ruiz



Afastem as crianças do computador. Esta conversa é dedicada às garotas adultas, independentes, mulheres que encaram a vida, seguram as rédeas, aceitam desafios profissionais e pessoais, empenham seus melhores esforços para a existência de um mundo, no mínimo, melhor.
Talvez desconsideremos as mulheres que olhem para seus próprios umbigos, ou, quem sabe, valorizemos as mulheres que conhecem seu corpo, umbigo incluso, e parte da sua psique.
Por isso, "a alma cheia de dedos", verso precioso de Alice Ruiz: É do jeito que eu me sinto agora, plena de dedos, cuidadosa, segurando a fala (a escrita) e as ideias, impondo diversos filtros entre o que penso e exponho, apesar dos cinquenta anos e cinco meses incompletos; apesar de sozinha ter cumprido responsabilidades duras; apesar de jamais ter desconsiderado qualquer demanda da vida.
Foi na madrugada de uma quarta feira qualquer que, meio insone, assisti ao início de um programa no canal GNT e comentei com meu pijama de flanela: Onde está o controle da TV? Não quero assistir a um programa erótico. Que engano, querida! O documentário "Clitóris, prazer proibido" - título em português tão limitado quanto infeliz - do original “Le clitoris ce cher inconnu”, de Michèle Dominici, realizado por Variety Moszynski e Stephen Firmin, é um concerto harmonioso e afinado composto por escritores, educadores, urologistas e psiquiatras sobre a sexualidade feminina, especificamente, o prazer e o clitóris, o órgão do nosso corpo que teria essa única função.
É frustrante, quase incapacitante, admitirmos que a sexualidade feminina seja tão pouco estudada e conhecida. Talvez porque ainda tenhamos a tendência limitada de associarmos a nossa sexualidade ao interdito, ao indevido, ao castigo e ao pecado.
Mesmo o currículo das aulas sobre sexo, a educação sexual ministrada em algumas escolas, é permeado pelo contraditório: Pretendemos que nossos filhos sejam sexualmente educados, mas, em nossas casas (ou fora delas) mantemos comportamentos equivocados ou, às vezes, invocamos o tabu; pretendemos que nossos filhos sejam sexualmente educados e entendemos que a matéria se esgota na prevenção: Meninas, não engravidem! Meninos e meninas, não contraiam doenças sexualmente transmissíveis!
Sem retirarmos a importância da fundamental profilaxia (a profilaxia é aliada da saúde, logo, da própria vida) temos que ensinar também sobre o prazer, para que a mente e o corpo mantenham diálogo são.
Neste documentário fiquei encantada com a participação da psiquiatra Leonore Tiefer, a única pessoa até agora capaz de explicar a sexualidade e o prazer com eu entendo: Simples, verdadeiro e resultado da convivência diária de boa qualidade.
Sobre a sexualidade e o prazer:  (tradução livre dos dizeres da Dra. Tiefer) “Vocês sabem o que traz prazer a uma mulher? Que o homem esteja presente ao seu lado. Que o homem se interesse pelas crianças, se lembre do aniversário da mãe dela, jogue fora o lixo... Para a mulher essas atitudes simples e ternas criam a sensação específica de segurança, de ser amada e bem cuidada, de ter um homem atencioso e verdadeiramente dedicado a ela e essa emoção, esse conhecimento imediato, intuitivo, de se sentir amada e protegida, produz na mulher o relaxamento, a tranquilidade e vários fenômenos físicos interessantes. É extremamente errado acreditar que a sexualidade é algo praticado na cama. A sexualidade é algo que nasce na relação entre duas pessoas, construída vinte e quatro horas por dia, sete dias da semana.”

segunda-feira, 12 de abril de 2010

The silent haughtiness of every man who has deeply suffered finds all forms of disguise necessary in order to be protected from the contact with anything that is not alike in grief

Eu complemento o texto sobre a eutanásia, "o suicídio assistido", com este link da BBC esquecido na pasta do material pesquisado, que traz mais informações sobre a difícil escolha da Dra. Anne Turner.
Por mais que o tema morte seja por nós temido e evitado é, justamente, pelo fato de estarmos vivos, esperançosos, lúcidos e saudáveis, que podemos iniciar diálogo respeitoso e sensato sobre fatos que compõem nossa existência.

I love a god. He does nothing for policital reasons

Meu marido está em um relacionamento sério, mas não é comigo

Da série “rident castigat mores

Entre a organização das coisas, a retirada da minha nova Cédula de Identidade, consultas tratamentos e exames, eu resolvi reavivar o meu antigo e combalido perfil no Facebook e ingressar no Twitter.
No Facebook eu recuperei amigos (poucos) tão queridos e preciosos, pessoas que me conhecem desde que eu nasci e que me chamam pelo meu apelido de infância. É aconchegante ser chamado pelo apelido de infância. Encontrei primos conhecidos e alguns sequer imaginados. Descobri duas mulheres gentis e valorosas, que tive o prazer de conhecer durante almoço no restaurante da Livraria Cultura. As duas, em dias diferentes, gentilmente compartilharam suas mesas comigo. Uma é especialista em vinhos e a outra, mestra do teatro brasileiro, conclui seu doutorado em Paris. 
Há alguns anos, ainda em Brasília, eu ingressei no maravilhoso mundo dos sites sociais através das mãos carinhosas do meu filho, que criou o meu perfil no Orkut. Hoje, eu reconheço que o início foi bem traumático: O impacto do comportamento outdoor dos que pretendem fortalecer seus relacionamentos, através da divulgação de imagens e informações pessoais, é devastador e os cacos emocionais se esparramam por todos os lados. Descobrir-se traída, desiludir-se e constatar mentiras on line é castigo que eu não desejo a ninguém. Tampouco desejo a qualquer criatura ser alvo da desfaçatez dos que reportam perfis sãos, como se falsos e prejudiciais fossem. Uma coisa é certa: Não há tempo, muito menos energia, para ser assíduo em qualquer site social.
Em relação ao Facebook é preocupante o uso contínuo dos aplicativos de jogos, aparentemente inocentes, que induzem ao vício (é inconcebível dedicar horas preciosas aos joguinhos disponíveis). Já o Twitter é excelente para quem quer conhecer novidades, se impressionar com a criatividade, se perder com tanta informação e rir com o bom humor inteligente de alguns participantes - lá, a seleção é fundamental. 
Na internet a simples observação, sem qualquer intuito prejudicial, auxilia a compreender a diferença entre o que é dito e o que é realizado.  Compreender e enxergar são verbos que, às vezes, podem doer, além de limitar a sublimação indevida - nós, as mulheres peritas na arte de sublimar.
Outro exame interessante é a involução dos relacionamentos sexuais, financeiros e sociais – propositadamente, evito a qualificação amorosos. Vivemos época de comportamentos interessantes e de natureza duvidosa, que levam ao mesmo espaço na internet a família, a mulher e a mulher: A primeira casada e a segunda em um relacionamento sério, ambas, com o mesmo homem. Acredito que este é um dos motivos que faz com que psicanalistas e escritores famosos frequentem sites sociais: o vasto e rico material disponivel para seus livros e programas. É interessante constatar que em nosso país escrevemos mais do que lemos livros. Todos escrevem.
Sem dúvida  a internet abrange os mais variados temas e eu não duvido que, a partir de hoje, uma boa parte da discussão entre os dois candidatos políticos mais famosos se realize no Twitter.  Molière deveria viver no século XXI.

Complemento:

- Querida Gerana, eu não resisti e divulguei o seu imperdível blog.
Eu tenho poucos "seguidores" (esta é uma das caracteristicas engraçadas daquele site: "seguidores" e "seguidos", lista volátil, que também compreende perfis falsos e links maliciosos) e dentre os que talvez me acompanhem, se encontra  essa moça inteligente e articulada a quem eu quis apresentar o "leitora crítica".

- Eis alguns participantes interessantes:
Millôr Fernandes
Flávio Gikovate
Augusto Nunes
Anthony Bourdain
Anderson Vanderbilt Cooper
além das indicações de livros do New YorkerPenguin Group, NY Times, Little Brown, British Library, notícias e dicas do Estadão e da Folha.   

Gerana, você viu minha foto no Facebook? Então, querida, entre lá, para que possamos conversar. 

domingo, 11 de abril de 2010

Eutanásia

Este tema é complexo e divide opiniões. Tudo o que envolve o thánatos, a morte, é de difícil compreensão e aceitação. A morte é um dos grandes mistérios e para amenizar seu impacto buscamos informações em diversas fontes – todas baseadas em crenças – e comumente adotamos alguma fé. Ressurreição, reencarnação, ou, o simples fim, não compõem o diálogo proposto neste texto, mas, sim, a condição de escolhermos a morte, ou melhor, definirmos a nossa morte com o devido amparo médico e legal.
A palavra eutanásia é forte e paradoxal por unir o eu (milagre da vida) ao thánatos. Logo, raramente dissociamos da eutanásia o desamor, a desesperança e o desespero. Entendemos que a eutanásia agride e ausenta o eu-fiel do tempo, que não comandamos, e da vida, que não nos pertence.
O Estado pretende tutelar nossa existência, portanto, dentre outras ações consideradas delituosas a legislação proíbe a eutanásia. A intenção do legislador é proteger-nos contra a ação daqueles que poderiam nos impor dano de tal forma intenso e insuportável, a ponto de retirar a nossa vontade e capacidade de viver. Imagine uma criatura sádica e vil que, aos poucos, aniquila a auto-estima de sua vítima e a induza à própria destruição. Alguns doutrinadores qualificam esse procedimento de “homicídio disfarçado”.
No tempo da faculdade de Direito, mais ingênuos e inexperientes, discutíamos sobre a efetiva "indução ao suicídio" praticada pelo malfeitor ao dizer a vitima, criatura desesperançada em pé à beira do telhado: "Mais um passinho, um passinho só e todos os seus problemas acabarão." À época, desconhecíamos a extensão dos danos emocionais causados por terceiros.
Qual é a sua interpretação do artigo 122 do Código Penal Brasileiro? “Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar auxílio para que o faça”.


Eis a minha constatação: Há dez dias meço palavras, conto letras e refaço frases para descobrir-me incapaz de demonstrar-lhes, de forma eficaz, o que penso sobre este tema e sobre o respeito pela dignidade e lucidez dos gravemente enfermos. Perseverança, superação e fé são conceitos constantes e fortes, que me fizeram oscilar a favor e contra a eutanásia. Concluo que cada situação merece análise e procedimentos exclusivos.
Assim, sugiro duas obras que deveriam ser assistidas, para que este tema não seja esquecido: O filme “A short stay in Switzerland”, 2009, de Frank McGuinness, com a primorosa interpretação de Julie Walters e “Mar adentro”, 2004, de Alejandro Amenábar, e a genial interpretação de Javier Bardem.
Para relembrar Julie Walters é uma das mais ativas atrizes inglesas e atuou em Billy Eliot (2000), Harry Poter, Calendar Girls (2003) e, recentemente, em Mamma Mia! (2008). Javier Bardem dispensa comentários. Ambos representam histórias e personagens reais: A médica Anne Turner e o pescador Ramón Sampedro. A BBC recebeu críticas pela apresentação de “A short stay in Switzerland”, o que me entristece pelo comportamento que ainda adotamos, ao deixarmos de lado assuntos que incomodam. O fato é que a vida não vem com manual de instrução e evitar o diálogo sobre temas difíceis não é a melhor solução.
Eu prometi que encontraria o texto dito por Bardem no final do filme. Cumpro a promessa: “Mar adentro, mar adentro, e na leveza do fundo... onde se realizam os sonhos... se juntam duas vontades para realizar um desejo. Seu olhar e meu olhar. Como um eco, repetindo sem palavras.
Mais adentro, mais adentro. Até mais além de tudo, pelo sangue e pelos ossos. Mas eu acordo sempre, e sempre quero estar morto para continuar com a minha boca enredada em seus cabelos.”

domingo, 4 de abril de 2010

Colcha de retalhos mágicos

Eu vim aqui prestar contas de poucos acertos, de erros sem fim. Eu tropecei tanto as tontas, que acabei chegando no fundo de mim. O filme da vida não quer despedida e me indica: ache a saída, e pede socorro onde a lua que encanta o alto do morro, que gane que nem cachorro correndo atrás do momento que foi vivido.Venha de onde vier, ninguém lembra porque quer. Eu beijo na boca de hoje as lágrimas de outra mulher. Cinquenta anos são bodas de sangue, casei com a inconstância e o prazer. Perdôo a todos, não peço desculpas, foi isso que eu quis viver. Acolho o futuro de braços abertos citando Cartola: Eu fiz o que pude. Aos cinquenta anos insisto na juventude
Paulinho da Viola

Dois CDs de Paulinho da Viola, vinte e oito músicas deliciosas na voz incomparável desse mestre, cantor e compositor. Esta é a minha trilha sonora agora, enquanto costuro a minha colcha de retalhos mágicos.

Sambo feito gringa maluca. Não faz mal. Falo com levíssimo sotaque, tenho rosto de estrangeira, sou branquela, o que, naturalmente, compõem toda a fantasia. Só o cão não entende muito bem o que acontece, mas quem resiste ao som de Paulinho da Viola?

Sentimentos em meu peito eu tenho demais, a alegria que eu tinha nunca mais. Depois daquele dia em que eu fui sabedor, que a mulher que eu mais amava nunca me teve amor. Hoje ela pensa que estou apaixonado, mas é mentira está dando um golpe errado. Agora estou resolvido a não amar a mais ninguém, porque sem ser amado não convém.
Paulinho da Viola

Ah, Gerana, como fico feliz com seus preciosos comentários. Sim, eu também senti falta, muita falta, principalmente, deste diálogo especial composto por palavras tão plenas. Não há letra ou acento gramatical que deixe de conter inúmeras experiências, sentimentos, origens, crenças, boa energia, bondade e força. São essas coisas raras que acontecem e a gente abraça sem pensar, sequer imaginar como nessa ‘multidão internética’ conseguimos criar laços tão felizes.

Por favor, fale sempre, fale mais. Não se engane, Gerana, parece que o depressivo é refratário ao que é dito, mas é nas amorosas palavras que ele se apega nos piores momentos. As verdadeiras palavras amorosas são as cordas que o ajudam a sair do abismo. E há outro segredo, um dos procedimentos da melhora: Reconhecer os hábitos depressivos e deles se afastar.

Obrigada, querida Regina. Confesso que fiquei cheia de dedos, bem temerosa e olhava para as imagens da obra de Athos Bulcão e pensava que eu não tenho o direito de alterar o feito do mestre com um pingo sequer, quanto mais com uma poesia inteira. E Neruda, por sua vez Neruda merece ter seus versos carinhosamente acomodados sobre o que é belo. Daí a ousada poesia sobre poesia. Assim também fiz com os versos de Antonio Cicero e Paulo Henriques Britto. Estamos famélicos de boa arte e eu não entendo como a obra de Athos Bulcão não receba a atenção e a preservação merecida, assim como não entendo como nos esquecemos da poesia em nosso dia-a-dia. Cansei de ouvir pessoas dizerem que não gostam de poesia: pois quem não gosta de poesia “é ruim da cabeça e doente do pé”, não, do coração. Às vezes sou feita de ousadias.

Canto pra dizer que no meu coração já não mais se agitam as ondas de uma paixão. Ele não é mais abrigo de amores perdidos, é um lago mais tranqüilo onde a dor não tem razão. Nele a semente de um novo amor nasceu, livre de todo rancor, em flor se abriu. Venho reabrir as janelas da vida e cantar como jamais cantei esta felicidade ainda. Quem esperou, como eu, por um novo carinho e viveu tão sozinho, tem que agradecer quando consegue do peito tirar um espinho. É que a velha esperança já não pode morrer.
Paulinho da Viola

Com a diferença dos calendários litúrgicos Juliano e Gregoriano, neste ano, a Páscoa dos Católicos Ortodoxos e Romanos foi na mesma data, o que me deixou feliz, leve e serena, por ser capaz de manter a quietude da Sexta-Feira Santa acompanhada pela tranquilidade da cidade. Eu lembro que em casa, ainda criança, Sexta-Feira Santa era dia de carinhosa contemplação: não havia música, nem a TV era apreciada e à noite íamos à missa mais bela do ano, composta por cânticos de melodia ímpar, bênçãos, água benta com perfume de flores aspergida sobre todos e a procissão do epitáfio florido. Na manhã do dia anterior eu acompanhava minha mãe, que era responsável pela liga beneficente das senhoras gregas, até a Catedral, para enfeitarmos com flores o sagrado epitáfio. Essas lembranças me alimentam e me fortalecem nos piores momentos. Por isso, faço questão da missa da Sexta Feira Santa e do Sábado de Aleluia, a primeira às oito horas da noite e a segunda às 23h 30min., para reforçar a fé e transmitir minha melhor herança ao meu filho. Meu herdeiro não terá bens para inventariar, o meu testamento é cumprido em vida e ao meu único beneficiário dedico o ensinamento que posso e o amor que aprendi.

Por ter trabalhado até tarde na véspera, passei o réveillon sozinha e muito bem, enquanto o garotão e o cão foram com a família da namorada para a praia. Nesta Páscoa a praia fez novo apelo, enquanto eu observava o que seria decidido pelo moço bonito, a pressão por ele recebida, as condições que lhe foram impostas, sua capacidade de negociação diplomática e, principalmente, a importância que ele dedica aos ritos religiosos da semana santa. Eu não tenho um adolescente pseudo-independente que poderia ser freado com o meu olhar mais duro, mas um homem de quase trinta, bem mais resistente aos meus olhares. Foi assim, minha Páscoa: A namorada do meu filho ficou em casa, ele foi responsável pelo almoço de sexta-feira, ela pelo almoço de sábado e hoje, os dois foram almoçar com os pais dela que voltaram da praia e eu curto a liberdade e a paz deste espaço. Agora, concertos de oboé de Bach tocados por Heinz Holliger.

Neste ano, Gerana, a cozinha pascal ficou por conta das “crianças”. Mas na cruzada organizacional, eu sei que surgirá o precioso livro de receitas de minha mãe, e eu copiarei as minhas preferiras para que você possa curti-las.

O sinal da cruz

Fazer o sinal da cruz se reveste de especial importância, pois, à maneira católica ortodoxa, equivale a uma profissão de fé.
Estendemos unidos os dedos polegar, o indicador e o médio da mão direita, enquanto os outros dois, o anelar e o mínimo, se apóiam na palma da mão; e assim levamos a mão à fronte, ao peito, ao ombro direito e, finalmente, ao ombro esquerdo, enquanto invocamos a Santíssima Trindade: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Os três dedos unidos (polegar, indicador e médio) simbolizam as três pessoas da Santíssima Trindade, um só Deus. Os dois dedos (anelar e mínimo) apoiados na palma da mão simbolizam a dupla natureza de Jesus Cristo: divina e humana, enquanto a palma da mão simboliza o ventre da Santíssima Virgem Maria, no qual o Deus-Homem se encarnou.
Leva-se a mão à fronte e, em seguida, ao peito, porque Cristo, o Verbo Eterno, desceu dos céus, como é dito da Profissão de Fé, o Credo, e se encarnou; depois tocamos o ombro direito porque o Credo diz que o Senhor, após se encarnar, exercer seu ministério salvífico, morrer e ressuscitar por nós, "subiu aos céus e sentou-se à direita do Pai."
Enquanto fazemos o sinal da cruz, estamos também pedindo ao Senhor que nos conceda bons pensamentos (fronte), bons sentimentos (peito) e forças (ombros).
Tal maneira de persignar-se era comum na Igreja Universal até o século XIII (primeiro cisma da Igreja Católica) e foi conservado no Oriente Cristão, na ordotoxia.
Entendendo, pois, a razão e o sentido desta prática de nossa fé, devemos fazer o sinal da cruz sem pressa e não impensadamente.




Profissão de Fé

O Credo Niceno-Constantinopolitano

Creio em um só Deus, Pai onipotente, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. E em um só senhor, Jesus Cristo, filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado e não criado, consubstancial ao Pai, por quem tudo foi feito. O qual, por nós homens e para nossa salvação, desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo na Virgem Maria e se fez homem. Por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. E ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras, e subiu aos céus e sentou-se à direita do Pai. E novamente virá com glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. E no Espírito Santo, Senhor vivificante, que do Pai procede e que, com o Pai e o Filho, juntamente é adorado e glorificado, e que falou pelos profetas. E na Igreja una, santa, Católica e apostólica. Professo um só batismo, para remissão dos pecados. Espero a ressureição dos mortos e a vida do século futuro. Amém. 

As imagens foram encontradas no site ecclesia e o texto sobre o sinal da cruz está no livro da Divina Liturgia de São João Crisóstomo da Catedral Ortodoxa de São Paulo

Kirie eleisson

Renascimento

Anastassi

Christos Anesti!

Alithos Anesti!

"Cristo ressuscitou dos mortos, pisando a morte com a morte, e dando a vida aos sepultados"

sábado, 3 de abril de 2010

Some good tension over all

Sou fã de Robert Downey Jr., principalmente, de sua inteligente irreverência e para mim este é motivo de sobra para gostar do filme Sherlock Holmes (2009) de Guy Ritchie. Mas não foi só a presença de Mr.Downey, que conseguiu manter-me atenta e até rever algumas cenas para curtir mais a diversão oferecida. O cineasta Guy Ritchie (Snatch, 2000, Revolver, 2005 e RocknRolla, 2008, dentre outros filmes) fez questão de apresentar um detetive humano, falível, depressivo, lutador de rua, cheio de vícios e manipulador e seu “sócio”, Dr. John Watson, um ludopata bom de briga. Dois personagens desprovidos da empáfia dedutiva do Sherlock tradicional, que não apreciam centenas de xícaras de chá, não tocam violino bem, nem mantém os diálogos intermináveis encontrados em outros filmes do mesmo personagem, mas que conseguem nos envolver com boa ação.
Talvez Sir Conan Doyle tenha feito uma careta de desaprovação, mas, cá entre nós, havia muita poeira e algumas teias de aranha sobre os cânones Sherlockianos.
A minha torcida é por um novo filme com o mesmo trio: Robert Downey Jr., Jude Law e Guy Ritchie.